O cinema comercial esconde algumas pérolas num oceano de clichês e idéias conformistas. Mais uma vez bebo na fonte do Brian de Palma em Snake Eyes para extrair uma delas. Vejam esta fala do personagem de Nicholas Cage: "Há 200 anos os piratas de Atlantic City colocavam falsos faróis na entrada da baía para enganarem os navios, fazendo-os naufragarem e assim poderem saqueá-los. Hoje as luzes estão apenas mais brilhantes".
Atlantic City é a Las Vegas da costa leste dos E.U.A. Não é preciso uma imaginação fértil para estendermos uma analogia além do covil de bucaneiros que virou uma aglomeração de cassinos. Luzes mais brilhantes... a mídia massificada, sobretudo a TV, os flashes das câmeras fotográficas. Raios catódicos que tentam padronizar nossa atitude, subornam opiniões, pilham idéias. A lógica do capitalismo selvagem possibilitou que os donos do poder não se preocupassem tanto em disfarçar suas intenções nefastas de esvaziarem nossos bolsos e espíritos. Apropriaram-se de artifícios antes restritos a uma das mais emblemáticas estirpes da marginalidade em toda a História: os piratas. Publicitários constróem faróis falsos da modernidade e nós, pobres marujos de primeira viagem, naufragamos no anúncio do carro, da cerveja, da roupa, do perfume, do cigarro, da geladeira, do celular. As luzes são tão fortes que me cegam.
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