quarta-feira, 27 de junho de 2007

Viagem

Em algum lugar do universo as naves espaciais são movidas a ondas sonoras. Seu combustível é a música. Isso explica o comportamento arredio dos ovnis que nos visitam. Só querem rock´n roll all night. Captando ondas radiofônicas, acompanharam a era das big bands, o twist, experimentaram um boost de potência com sumidades como Little Richard, Jerry Lee Lewis e Chuck Berry e graças à Santíssima Trindade do hard rock, expandiram suas fronteiras para limites inimagináveis. Ultimamente têm se mostrado decepcionados com os rumos que a música pop tomou, a mediocridade tomando cada vez mais espaço no dial. E voltam-se para décadas passadas, quando o ímpeto de chegar até onde nenhum ser humano jamais esteve - melhor dizendo "to go boldly where no man has gone before" - traduzia-se em canções que não ofereciam limites para a imaginação.

Cruzadores transgaláticos atravessam o éter turbinados pelo primeiro disco do Rush. Caças translúcidos desviam freneticamente de sucessivos obstáculos de um cinturão de asteróides numa velocidade insana, graças aos acordes de Sabbra Cadabra, do Sabbath. Gigantescos couraçados adentram a atmosfera de Rigel sob a histeria de 21st Century Schizoid Man, do King Crimson. Tales of Brave Ulisses, do Cream, impulsiona a intrépida esquadra rebelde contra o QG do tirano que oprime seu povo. E Time permite que a sonda de pesquisas seja tragada por um buraco negro onde do outro lado pode-se ouvir softly spoken magic spells num great gig in the sky. Aí chegaram uns caras que me afastaram do pc e me colocaram numa camisa-de força.

Elas também podem, metaforicamente, nos transportar. Eu, por exemplo, entro em órbita quando escuto Cross-Eyed Mary do Jethro Tull, Whiter Shade of Pale, do Procol Harum, Nights in White Satin, do Moody Blues, Season of the Witch, do Donovan (nesse caso, uma órbita muito feliz, harmônica, intimamente binária), Eleanor Rigby (de preferência com o Ray Charles) e Mestre Jonas (Sá, Rodrix & Guarabira), entre muitas e muitas outras.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

200

O Bardo, por J. Martin

Este é o post número 200. Todos meus 3 blogs anteriores morreram muito antes de atingir esta marca. Portanto, apesar da inconstância, estou orgulhoso de ter chegado até aqui sem chutar o pau da barraca. Graças a esse blog meus horizontes se ampliaram, travei contatos com pessoas que nunca teria chegado a conhecer de outra maneira. De certa forma, alguns sonhos se tornaram matéria. E é isso que importa.

A Nona Onda, por Aivazovsky

Meu interesse pelo incomum, pelo novo, diferente, bizarro, marginal, inexplicável, e também pelo belo, levou-me a territórios como o roubo de anões de jardim, um pintor surrealista do leste europeu, mapas de continentes ainda não descobertos, atores obscuros, mitologia egípcia, filmes noir, a seita do monstro-spaghetti voador, UFOs, Escher, Peter Sellers, Jim Jones, reptilianos, Borges e Scott Fitzgerald. Agradeço de coração à audiência, que, embora pouco expressiva numericamente, sempre foi de alto nível, fundamental para eu ter chegado tão longe. Que minha curiosidade nunca cesse, que eu nunca decepcione meus leitores e que o mundo e a vida continuem se apresentando como fontes permanentes de mistério e fascínio.

Lagrenée (não sei o título)

Convido a todos que lerem esse post a brindarem telepaticamente comigo. E isso me remete a um certo George Jung e uma frase que até já escrevi aqui e que ele sempre repetia em seus brindes:

May the wind always be at your back
and the sun upon your face
and the winds of destiny carry you aloft
to dance with the stars

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Brasileirão de ioiô: cobertura completa

Pôster do Torneio do ano passado

Que panamericano que nada. Muito menos futebol. Essas coisas pouco me interessam. Esporte legal mesmo é ioiô. Dizem que o Aldo Rebelo queria rebatizar a modalidade, assim como queria mudar o nome do futebol para "ludopédio", para combater a colonização cultural que nos assola. Felizmente, seu desejo só resultou em tiração de sarro. Até então eu achava que ioiô era um termo brazuca. Não é: vem do idioma tagalo, ramificação do malaio, falado nas Filipinas, e significa "volte aqui". Essa língua deve ser hilariante, imagina a mãe chamando o filho: "Cleverson, ioiô! Se não ioiô, vai apanhar!"

Ferramentas do Imperialismo Norte-Americano. Oquei.

Antes de me aprofundar na cobertura do Campeonato Brasileiro de Ioiô, vamos dar um pequeno passeio pela história desse fascinante esporte. Depois da boneca, é considerado o brinquedo mais antigo do mundo, embora não se saiba quando nem onde surgiu. Mas no Museu de Atenas há uma cerâmica com cerca de 2.500 anos com a figura de um menino segurando uma cordinha com um disco na ponta. Era praticado também na China desde tempos imemoriais, na época era feito de pedra. No século XVI, soldados filipinos o usavam como arma. Ioiô também é cultura.

Num evento olimpicamente ignorado pela mídia, São Paulo sediou o sexto Torneio Nacional em um fim de semana de maio. Para a decepção daqueles que acham que ioiô não passa de um modismo importado pela Coca-Cola para bebermos mais refrigerante, uma coqueluche morta e sepultada, vale dizer que o Brasil é uma das potências da modalidade. Rafael Matsunaga, campeão mundial em 2.004, é um dos 11 "ioio masters of the world". E a ABI (Associação Brasileira de Ioiô) tem mais de 2.000 filiados. Virtuoses como Aspirina, Chapolim, Cogumelo, Salsicha e Marechal. Este último era inclusive o favorito em uma das categorias - há várias subdivisões - mas um único erro em sua apresentação tirou o caneco de suas mãos e acabou como vice. Ioiô também é criatividade, auto-controle e precisão.

Dale Myrberg, detentor do "Harvey Lowe Lifetime Achievement Award" (campeão de ioiô em português)

Queria que alguém me explicasse porque não é um esporte olímpico, enquanto coisas enfadonhas e idiotas como curling (espécie de bocha com pedras deslizando no gelo) e badminton já são. Aproveitando o ensejo, por que não promover também a purrinha, jogo de estátua e stop (sorteia-se uma letra e vence quem preenche primeiro todas as categorias)? Quem sabe assim eu mesmo poderia brigar por uma vaga na delegação brasileira...

Fonte: Revista Piauí

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A rádio perfeita

Imagine que a música, todas as músicas, morem em um campo onde o norte seja o lar das mais enérgicas, o sul das mais calmas, o leste das otimistas e positivas e o oeste das dark, mais sombrias. Escolha entre 18 ritmos diferentes e/ou selecione o "humor" entre os quatro pontos cardeais, na intensidade que você determinar. Vai aparecer um menu em forma de teia tocando uma música que corresponde às suas opções, rodeada por várias outras no mesmo perfil, como uma constelação. Por exemplo: um rock bem positive e moderadamente energetic nos leva a Wilson Pickett com Mustang Sally com David Bowie e Eric Clapton como vizinhos de porta e, mais afastadas, canções de Simon & Garfunkel, Travis, U2 e Eurythmics, entre outros, completando a constelação. Blowin in the Wind, do Bob Dylan fica no sudoeste: muito calma e bem dark. Boys don´t cry, do Cure mora no noroeste (energética e dark), perto de Where the streets have no name, do U2, com With a little help from my friends, Joe Cocker, mais ao norte. Pode-se escolher também de acordo com a época; com o quanto é dançante; ou com o tempo, mais lenta ou acelerada. Parece confuso, mas conseguiram oferecer todas essas gamas de preferências com uma interface simplérrima. Tem que ver.

Entretanto, contradizendo o título, está longe de ser perfeita, senti falta de muita gente que não deu as caras nesse mapa musical. Pra ficar só nas ausências mais graves, não achei nada de Beatles nem dos Stones. No dia de São Nunca, quando todos os músicos e gravadoras deixarem de lado a ganância e desencanarem, abrindo mão de seus direitos autorais, aí sim, vai ser a Rádio Perfeita.

http://musicovery.com/