domingo, 13 de dezembro de 2009

Enfim, Banksy





No mínimo, instigante e provocativo. Eu acho genial. E tem muito mais. Aguardem

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Charles Bukowski - Poesia

If you're going to try, go all the way.
Otherwise don't even start.
This could mean losing girlfriends, wives, relatives, jobs.
And maybe your mind.
It could mean not eating for three or four days.
It could mean freezing on a park bench.
It could mean jail.
It could mean derision.
It could mean mockery, isolation.
Isolation is the gift.
All the others are a test of your endurance.
Of how much you really want to do it.
And you'll do it, despite rejection in the worst odds.
And it will be better than anything else you can imagine.
If you're going to try, go all the way.
There is no other feeling like that.
You will be alone with the gods.
And the nights will flame with fire.
You will ride life straight to perfect laughter.
It's the only good fight there is.


Se vai tentar, vai fundo.
Senão nem vale a pena começar.
Você pode perder esposa, namorada, parente, emprego.
E talvez a cabeça.
Pode ficar sem comer por 3 ou 4 dias.
Pode congelar num banco de praça.
Pode ir pra cadeia.
Pode virar chacota.
Pode virar escárnio, isolamento.
Isolamento é a dádiva.
Todo o resto é um teste de resistência
do quanto você realmente quer fazer.
E você vai fundo, apesar de todas as formas de rejeição.
E vai ser melhor que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar, vai fundo.
Não há sentimento que se compare.
Você estará sozinho com os Deuses.
E as noites terão o brilho do fogo.
Vai cavalgar a vida com um sorriso impecável.
É a única luta que vale a pena.

Do filme "Factotum", com Matt Dillon fazendo o Bukowski. Tradução minha.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Do Além - Parte 1: O Navio Fantasma

Já escrevi vários posts "seriais", onde escolho um determinado assunto - como mitologia egípcia ou teorias conspiratórias - e faço uma decupagem, dividindo o tema em vários tópicos, um em cada post. Esta série vai abordar fenômenos inexplicáveis, e apesar do meu entusiasmo natural por essas coisas, vou tentar ser o mais cético possível. Isso significa que figuras do naipe de ET de Varginha, Mister M e imagens da Virgem Maria no misto quente passarão longe daqui. O título "Do Além" deriva de um conto do Mestre H.P. Lovecraft, o maior escritor de horror de todos os tempos, o Tolkien do mal. Mas vamos aos fatos.


Histórias de navios fantasmas sempre foram bastante populares, mas até hoje nunca tinha ouvido nenhuma que merecesse algum crédito. Foi pesquisando um tal "Livro dos Danados" que descobri o caso do Mary Celeste. Em 1872 esse navio mercante partiu de Nova York com um carregamento de álcool etílico; o destino seria Gênova, na Itália. Contudo, a tripulação formada por 7 marinheiros, mais o capitão, sua esposa e filha nunca chegaram lá. Eles simplesmente desapareceram da face da terra sem deixar vestígio algum. A embarcação Dei Gratia encontrou o Mary Celeste à deriva no meio do Oceano Atlântico. Uma abordagem preliminar eliminou a hipótese de um ataque pirata, pois tanto a carga quanto os objetos pessoais da tripulação estavam intocados. O navio tinha alguns equipamentos avariados, faltava um bote salva-vidas, mas nada que levasse a crer que tinha enfrentado uma tempestade forte o suficiente para obrigar todos os ocupantes a abandoná-lo. Não houve relatos de maremotos ou tsunamis na área onde foi encontrado. Ele havia deixado a América apenas um mês antes e havia água e suprimentos em abundância. Além disso, os marinheiros eram experientes, não havia sinal algum de violência a bordo, enfim, configurou-se um mistério insolúvel. Depois desse evento, o Mary Celeste provou ter um quê de maldito: teve 17 donos em 13 anos e acabou naufragando propositadamente na costa haitiana para seu último proprietário receber o seguro da carga. Mas a fraude foi descoberta, um final coerente com a má reputação do navio.

Há várias explicações para o ocorrido, mas como relatei acima, as mais prováveis não fazem sentido. Nunca saberemos o que houve com o capitão Briggs, sua família e os 7 marinheiros. Será que foram abduzidos? Ou penetraram numa outra dimensão do espaço-tempo? A resposta fica a seu encargo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Herói


A Família Soprano, além de ter sido uma das mais premiadas séries da história da tv, também notabilizou-se por retratar com muita humanidade a classe dos mafiosos. Personagens complexos, contraditórios, com sentimentos de culpa e fraqueza, apesar do cotidiano violento. Tony Soprano, o chefão de quem esperamos ter total desprezo pela vida humana, nervos de aço, brutalidade e pouco remorso, na verdade é um sujeito atormentado sob cuidados psiquiátricos. Tony sente que é um espécimen em extinção, dividido entre os papéis de pai, marido e gângster. Os códigos de conduta de sua organização mafiosa estão ficando obsoletos, não há mais respeito. Cada vez mais descrente, ele constata, atônito, que o arcabouço de valores da sociedade"normal", das pessoas que ganham a vida honestamente, também sofreu a mesma degeneração. Com um ar de desalento ele pergunta à sua psiquiatra o que aconteceu com aqueles caras tipo Gary Cooper, fortes, silenciosos, os heróis de uma época quando ainda havia ingenuidade e glamour suficientes para acreditarmos em heróis.

O crítico Antônio Cândido relata em uma entrevista que as gerações que o sucederam (ele é contemporâneo dos Modernistas de 22) carecem cada vez mais de grandes homens. Já houve épocas em que milhões morriam por um ideal. Os princípios eram maiores que as pessoas, românticos lutavam por utopias, a crença de que seus atos poderiam mudar não só você mesmo, mas exercer efeitos em grande escala. Você podia ser comunista, hippie, fascista, mas fazia parte de um grupo com o qual partilhava idéias, padrões de comportamento, sonhos, paixões.


Isso me remete a um dos primeiros posts que escrevi, citações em inglês de diálogos do filme Waking Life:

Temo que estejamos perdendo as verdadeiras virtudes de viver apaixonadamente, no sentido de ser responsável por quem você é, a habilidade de fazer algo de si mesmo e se sentir bem sobre a vida.


O que aconteceu com os modelos de comportamento? Examinadas pelas lentes papparazzi do pós-modernismo, não há personalidade que resista a um exame mais cuidadoso. Somos todos fracos demais, demasiado vítimas de nós mesmos. Reduzidos ao status de consumidores do mundo livre.

Assisti 3 filmes relativamente novos e cada um à sua maneira se relaciona com esse desencanto. Em Frost/Nixon temos um apresentador de tv pioneiro no fato de ser famoso apesar de não ter nenhum talento especial. Hoje há inúmeras pessoas que se tornaram celebridades porque aparecem na mídia, e uma boa aparência basta. O filme mostra um embate entre esse homem vazio e vaidoso e um ex-presidente cínico e imoral, mas incapaz de esconder a vergonha que sente por ter sido desmascarado. Prenúncio de tempos mais escandalosos, na época os políticos ainda se envergonhavam e o anônimo rosto bonito da tv ainda tinha ambições intelectuais concretas.

Michael Douglas deixa a barba crescer em O Rei da California. Convoca a filha para ajudá-lo a encontrar nos dias de hoje um tesouro enterrado há 400 anos numa terra apinhada de cadeias de lanchonete e shopping centers. Ele é louco, é claro. Mas o grande barato do filme é que a filha resolve acreditar em sua história, e nessa busca escapam para uma realidade onde podem transgredir sua sina decadente e encontrarem uma conexão através do sonho. Desse modo, são heróis. Perto do amor mútuo que resgatam, qualquer tesouro vale pouco.

No entanto, o que realmente me fascinou foi Conduta de Risco. Porque é uma pequena obra prima sobre transformação pessoal, virtude, amor à vida. Esqueça que é com George Clooney e preste atenção em seu personagem, o advogado Michael Clayton, um verdadeiro herói contemporâneo que tem conflitos, muitos defeitos, mas que apesar disso tem o a nobreza de contrariar o sistema e agir de acordo com sua consciência na decisão mais importante de sua carreira. Parece lugar-comum? A sinceridade que consegue imprimir dá a seu personagem dimensões humanas raras nos heróis de cinema. Sobretudo nos atuais. Ele me relembra outro trecho de Waking Life:

A
mensagem aqui é que nunca devemos nos eximir de culpa ou se ver como vítima de várias forças. Quem somos é sempre uma decisão nossa.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Quatro

10/6/09

Alvorada. "Acorda, patativa, e vem cantar". Ou dançar. Há pessoas que passam a vida inteira sem dançar, como ele. Ainda não está livre o suficiente para tanto. Um dia estará, ele sonha. Certamente nunca mais seria chamado de "patativa" depois que sua mulher se fora, muito menos daquele jeito cheio de alegria típico dela. E aquilo o fez chorar. Primeiro una fortiva lacrima, ainda às 4 e poucas. Depois nesse momento, às 5:37 a.m. Ela se fora como um anjo que abre mão de sua vida para salvar a de outro. Ele tem vontade de pedir perdão, "me perdoa,
sugar". Mas ela não está ali. A não ser que tenha virado uma canção, como na música do China. Assim ela não morreria nunca. Pensar aquilo lhe dá um certo conforto.
Como um combatente num filme velho de guerra com Frank Sinatra e Dean Martin ele ainda tem vontade de dizer a ela que vai honrar sua morte vivendo uma vida digna. Céus, hoje, sob a guarda de Jorge e a de Deus todo poderoso, o cara acordou sensível, sem saber se aquilo era uma benção ou maldição, provavelmente os dois. E resolve pensar na África, onde todos riem, cantam e dançam apesar da miséria. O programa de tv que assiste entrevista um sociólogo francês casado com uma africana. A pobreza não contamina suas almas. O cara quer escrever sobre pessoas. Como elas são. Porque Bogart disse em Casablanca que fulano de tal ser bêbado, ou estar sempre bêbado o fazia uma criatura do mundo? Não inglês, alemão, peruano ou mundano, mas do Mundo

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Três

Terceiro capítulo, comece no Um. Ou não.

A linha de raciocínio mais uma vez é interrompida. Stan, o dj, entra no quarto pedindo biscoito e relata uma fuga dos internos. O homem fica inquieto, quer saber quem fugiu, pois teme que o amigo Celinho esteja entre eles. Toma café com leite, fuma um carlton, vai até a "times square" (o corredor anexo à enfermaria, ganhou esse nome porque ali o tempo nunca parecia passar). Do seu lado aparece um interno visivelmente noiado. O homem volta pro quarto e liga a tv: comédia romântica com Ben Stiller. Porcaria. O personagem de nome Sr. Pfeffer, numa dessas raríssimas falas memoráveis nos filmes atuais, diz que a vida não é sobre o que foi ou deixou de ser feito, se você já foi grande ou tem planos mirabolantes; o que importa é a própria jornada, pelo amor de Deus! E que se algo bacana te acontecer no caminho, por favor esteja presente e desfrute o momento. Enquanto isso, não leve as coisas tão a sério, procure se divertir. Ele diz isso tudo pro cara que é um ator fracassado. Qual o nome dele mesmo? Ah, sim, Philip Seymour Hoffman, mostram os créditos. Grande ator.

domingo, 9 de agosto de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Dois

(continuação; leia antes a parte Um)

Primeiro foi o cãozinho. Uma dessas raças fofinhas. Com certeza já estava doente, talvez fosse geneticamente defeituoso e o Josimar deixou com o homem porque não sabia o que fazer com o bicho. Afinal, Josimar sabia que ele e a mulher não permitiriam que atravessasse a cidade de moto na noite gelada com aquela criaturinha frágil. Caíram feito patos. O cachorrinho branco, batizado Pisquilo, morreu menos de um dia depois. O homem ainda gastou R$ 170,00 com veterinário, o que de nada adiantou. Viu o exato instante em que o sopro de vida saiu do bichinho e não voltou mais. Ficou chocado e deprimido. Prometeu a si mesmo nunca mais presenciar aquilo. O testemunho da visita do grandalhão de túnica negra, capuz e foice. The grim reaper. O Ceifeiro.

Pois poucas semanas depois o Ceifeiro voltaria a visitá-lo para roubar o fôlego de mais um vivente muito próximo dele: sua companheira, sua mulher.


9/6/09

E foi na reunião dos Narcóticos Anônimos, ali mesmo no hospital.

"Nunca mais vou te deixar pois agora sou uma canção". Música de China. Linda. É a Isabel. "Bebel, te amo muito, não importa onde você estiver. Hoje meus olhos ficaram marejados quando falei de ti pro psicólogo". "Você chorou na morte dela ou desde então?", pergunta o psicólogo. "Deixe-se acreditar, esse é o Reino da Alegria, não tema", diz o estranho clipe do Mombojó.

(continua)

sábado, 8 de agosto de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Um

Uns meses atrás li uma matéria nalgum lugar sobre uma revista americana cujo conteúdo é composto de notas anônimas encontradas ao acaso: na rua, em latas de lixo, esquecidas em salas de espera de um dentista etc. Desde listas de compras até poesias. Achei supimpa, fiquei doido pra ler a publicação.

Mas como o destino, esse gozador, sempre nos apronta uma, nunca tive a oportunidade de ler a tal revista, mas chegou às minhas mãos uma fascinante narrativa achada randomicamente, - à maneira de Narrativa de A. G. Pym, do Edgar Allan Poe - através da enfermeira da minha avó. Ela tem outro emprego numa instituição psiquiátrica e há poucos dias, ao trocar os lençóis de um paciente recém-saído, descobriu uma porção de folhas de papel higiênico preenchidas com uma escrita elegante e sinuosa. Por algum motivo guardou o manuscrito e depois me mostrou. Formidável.
Veleiros - Artur Bispo do Rosário

8/6/09

E olhou para o céu de novo. Não havia muito a se fazer ali a não ser zanzar pelos corredores, num tipo de corrida com obstáculos, estes sendo os habituais pedidores do cigarro, os loucos 22, médicos que pareciam estar em suas próprias corridas com obstáculos. Ou, enfim, espiar as nuvens, quando possível, o que nem sempre era. Havia contingências, como céus de Brigadeiro e horários específicos para permanecerem no pátio, quando, aí sim, podia refletir sobre a fugacidade das nuvens de inverno, suas tonalidades que não encontravam simulacros. Etéreas, como o tal corpo que os espíritas dizem que possuímos. Sopro de vida. É simples assim: ou ele está presente em você ou não. Naqueles últimos 30 dias ele havia presenciado duas criaturas perderem a vida ali, do seu lado.

(continua)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A walk - Bad Religion & Pink Floyd

I'm going for a walk
not the after dinner kind
I'm gonna use my hands
and I'm gonna use my mind

(...)

I'm going for a walk and there's nothing you can do
'cuz I don't have to live like you
so I'm going for a walk
(tem o clipe no You Tube)



Caminhou pela cidade deserta. E pensou se conseguiria se encarar por 10 segundos no espelho. Mas sempre voltamos pra casa. Tomara.

Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells

sábado, 16 de maio de 2009

Aparência do Mundo

Há dias de roda-gigante e dias de moinho. Nuns o mundo parece fascinante, acolhedor, alegre e convidativo. Noutros, parafraseando o Cartola, parece triturar nossos sonhos, dos amores herdamos só o cinismo e a cada esquina a vida cai um pouco mais. São os dias em que cavamos o próprio abismo. Nessas ocasiões às vezes o único consolo que pode haver é que sem provar o fel nunca daremos valor ao mel. E assim por diante. Não quero ficar enfileirando chavões. Vamos mudar de assunto.

Ia falar mais sobre o Cartola, mas resolvi poupar o meu tempo e o seu, de modo que se você estiver curioso sobre a origem do apelido ou que tipo de vida ele levou pra escrever músicas tão lindamente melancólicas é só clicar no link. Achei altamente instrutivo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Nostálgico e Ranheta: Introdução a Banksy

Como a História é irônica... lembrando àqueles que têm menos de 20 anos, ou mesmo os que têm mais, mas enchem a boca pra dizer que "detestam política" e acham que jornal é aquela coisa apresentada na tv por um casal até simpático, mas que só serve pra encher linguiça entre uma novela e outra: houve um tempo em que termos como "subversão" e "regime militar" estavam bem mais em voga. A ironia é que, embora fossem expressões antagônicas, quase excludentes - só apareciam na mesma frase se ela fosse tipo: "O regime militar tem lutado contra a subversão" ou vice-versa - uma se alimentava da outra. Os milicos só chegaram ao poder em 1964 com o apoio das classes mais abastadas, que julgavam que só eles poderiam anular a "ameaça vermelha", os comunas, os elementos subversivos, as libelus e os MR-8s. E a ditadura perdurou por 20 anos, ou 25, se levarmos em conta que só em 89 houve eleições diretas para presidente, quando esse povo que acha que jornal é sinônimo de casal Bonner, elegeu um safado com cara de galã de novela e nariz de freguês do Pablo Escobar.

Antes disso tivemos os tais "anos de chumbo", em que a censura imperava nos meios de comunicação. Ninguém podia falar mal do governo, mesmo uma rodinha na esquina de meia dúzia de gatos pingados podia ser considerada um ato subversivo e a polícia descia o cacete, isso se não te levavam pro Doi-Codi; aí, meu amigo, você no mínimo ganhava uma entrada grátis para a Torturolândia. Tempos de liberdade cerceada, senadores biônicos, muita repressão nas ruas, de terrorismo no Brasil(!). Quem não viveu nesse tempo dá pouco valor a direitos como: votar, pegar um megafone e xingar o presidente ou bloquear a rua num ato contra a violência policial. Aliás, se hoje coisas como mortes diárias de inocentes por "balas perdidas" e veículos policiais tipo "caveirão" viraram banalidades, pode creditar boa parte da culpa à ditadura. Ela foi a mãe do Bope, da Rota, enfim, do uso do aparato estatal para impor uma determinada ordem social na força bruta. Lembre-se que a polícia existe para proteger e servir à todos, sem distinção. Lembre-se também que muita gente morreu por uma causa hoje subvalorizada, subestimada ou mesmo, desconhecida. E que, de forma indireta, prestou um grande serviço à MPB.

Sim, pois a geração de artistas que debutou nos anos 60/70 tinha que carregar nas metáforas, hipérboles, metonímias e outras palavras acentuadas de significado ignoto para passar seu ponto de vista sem chamar a atenção dos censores. Eram os "subversivos". Então Chico cantava que apesar de você amanhã há de ser outro dia, sem especificar o você. Noutra queria nos dizer apenas que a coisa aqui tá preta. E em Bye-Bye Brasil, não dava pra falar muito, não. Espera passar o avião/ assim que o inverno passar/ eu acho que vou te buscar. Talvez uma menção velada aos exilados políticos no exterior. E aqui está a ironia: enquanto a ditadura vigorou, os medalhões da música popular gravaram seus melhores discos, a MPB teve sua Era de Ouro. Sei que a afirmação é polêmica, mas é minha opinião, dá licença? Não só os famigerados Chico, Caetano, Gil e Milton, mas também os pré-mauricinhos da jovem guarda - Roberto, Erasmo e outros esquecidos. Sem falar em Novos Baianos, Secos e Molhados, Sá, Rodrix e Guarabira, Jorge Ben, Tim Maia, o Clube da Esquina - casualmente, a poucos quarteirões donde escrevo - e o milenar, unânime Raul. A lista é extensa. E todos, com a provável exceção da jovem guarda, tidos pelas autoridades como subversivos, imorais, devassos, drogados etc.

Na imprensa havia o Pasquim, muita gente boa se esmerando nas figuras de linguagem para driblar a censura. E no finalzinho do regime veio o genial Planeta Diário, seguido pela Casseta Popular. Quando a Globo conseguiu cooptá-los pra tv, gradualmente sua graça, irreverência e escracho foram vampirizados. Hoje parecem uma cópia mais chula e menos criativa de si mesmos. Na literatura estrearam Ignácio de Loyola Brandão, Rubem Fonseca (a quem devo nome deste blog), Moacyr Scliar, Caio Fernando de Abreu, Wander Pirolli, Fausto Wolff, o poeta Chacal e mais um bando.

Voltando à música, a criatividade brasileira deu seu último suspiro com os roqueiros do meio dos 80. Mas Deus levou dois dos poucos poetas verdadeiros, Cazuza & Renato Russo, para nos deixar com Frejat & Dinho Ouro Preto. Sacanagem... E no meio do caminho entre Elis Regina e musas com nome de frutas havia umas mamonas assassinas.

E eu que queria escrever sobre um grafiteiro inglês que seria um dos poucos subversivos autênticos do Século XXI, fico por aqui porque o texto já está grande demais. Talvez esse discurso nostálgico e ranheta já virou até clichê, mas não posso deixar de perguntar ao leitor: quem substituiu esses caras todos?