sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Karel Capek e a Guerra das Salamandras


A Let mencionou um escritor tão genial quanto desconhecido. Isso, somado à destreza com que minha gatinha pariu e cuida de seus filhotes me inspirou a falar desse livro. Vamos a ele:

"Não pensem que a evolução que resultou em nossa vida seja a única possibilidade de evolução nessa planeta". Esta frase inspirou Carel Kapek, escritor tcheco, a escrever A Guerra das Salamandras. Partindo dos efeitos do isolamento geográfico aliados à Teoria Evolucionista de Darwin, criou um ser com um cérebro tão avaçado quanto o do ser humano, tão hábil e capaz como qualquer um de nós. A história começa com a descoberta dessas criaturas por um velho marinheiro numa ilha do Pacífico Sul. Temidas e evitadas pelos nativos, o Capitão Van Toch fica fascinado com as lendas locais sobre esses animaizinhos e numa madrugada, munido de um respeitável suprimento de bebidas alcoólicas como apoio para o que está prestes a conhecer, dirige-se a uma obscura enseada que seria seu habitat.

Salamandras, frágeis e desajeitados anfíbios capazes de andar sobre duas patas como uma versão aquática hedionda de uma criança mutante. Incrivelmente espertas, gradualmente perdem o medo de Van Toch e travam conhecimento. Ele vê nelas uma mina de ouro, ou melhor, de pérolas. Assim como os colonizadores oferecem bugigangas aos índios em troca de bens preciosíssimos, o Capitão estabelece um escambo com elas, que o enchem de pérolas extremamente valiosas. Obviamente, ele mantém seu negócio em sigilo, mas tem grandes planos: colônias de salamandras, milhares delas a serviço do Homem, garimpando tudo que as profundezas do mar podem oferecer. Para um empreendimento em larga escala ele se alia a um magnata, que fornece uma frota de navios, para aumentar os territórios de atuação das salamandras.

Logo, o segredo acaba vazando e o mundo toma conhecimento daqueles bichinhos tão feios quanto dóceis e hábeis. Como se não bastasse, elas também aprendem a falar e com ajuda de grandes corporações e governos, proliferam por áreas costeiras de todo o globo. É bom lembrar que estamos nos anos 30, época de radicalismos políticos, então surgem salamandras democratas, fascistas, nazistas, comunistas, americanas, francesas, inglesas, soviéticas, de várias categorias, reinventando a escravidão. Com enormes suprimentos de explosivos, fornecidos pelos próprios humanos, elas rapidamente assimilam o conceito hobbesiano de que o "homem é o lobo do homem" e aí... bem, a segunda frase que motivou Capek a escrever o livro foi: "se uma espécie animal tivesse atingido esse nível a que chamamos civilização, teria cometido os mesmos absurdos que o Ser Humano?"

Notável a imaginatividade com que a história é contada, misturando trechos de um romance satírico com textos jornalísticos, científicos e mesmo fazendo uso da metalinguagem. A escrita é fluente, descomplicada, uma delícia de se ler. Não há nenhum livro que se compare a este.

Acho difícil que o encontrem, mas isso não é motivo para que eu estrague a surpresa e revele toda a trama. Basta dizer que o livro antecipou a Segunda Guerra Mundial com incrível riqueza de detalhes. Uma crítica contundente à forma como o Ser Humano se vê como Soberano do planeta. Como se vê, tal crítica nunca se mostrou tão atual. É nessas horas que odeio o mercado editorial brasileiro, como é que não republicam A Guerra das Salamandras? Enquanto isso, as pessoas devoram romances tipo Dan Brown (Código da Vinci) e se acham muito cultas...

Maternidade

Agora são seis da manhã. Passei a noite em claro porque minha gatinha grávida estava dandosinais que ia parir, procurando um cantinho mais recluso e miando para mim de forma diferente - quem tem gato sabe que a diversidade dos sons que emitem é tamanha que não seria loucura dizer que eles têm seu próprio idioma. Estava preocupado pelo de ela ser muito nova, apenas 14 meses, a demora em parir me deixou ainda mais preocupado. No entanto, minha vizinha, que é veterinária já havia me advertido sobre a duração do trabalho de parto. A bolsa estourou lá pelas 3:30 ou 4:00, podia ver na carinha dela que aquilo doía, tentei dar uma ajuda massageando o abdome, mas nada. Então deixei-a sozinha por alguns minutos no meu quarto, no segundo andar da casa, e desci para ligar para uma clínica veterinária e fui tranquilizado, o processo era aquele mesmo. No que eu desliguei ouvi um miado: era ela do meu lado já lambendo o filhote recém nascido. Ela saiu do cantinho aconchegante que tinha arrumado, para parir no chão frio, só para que eu ficasse perto dela! Coloquei-a numa caixa de papelão revestida de jornais e um cobertor velho e pouco depois já nascia o segundo filhote.

Não sou neófito no assunto: a própria progenitora dessa mãe já havia dado cria em minha presença, só que no veterinário. Tomei uma facada de quase R$ 500,00 e minha vizinha falou que aquilo não era necessário: a mãe fazia tudo. Esse parto confirmou o que ela disse e me despertou para umas divagações...
A Deusa Afrodite, museu do Louvre

Apesar do que alguns dizem, que na verdade são as mulheres que estão atrás dos grandes líderes mundiais que realmente tomam as decisões mais importantes, acho que são exceções. Vivemos em um mundo patriarcal, masculino desde sempre, e vejam só no que deu... Aos poucos as mulheres estão conquistando seu espaço e espero que conquistem muito mais. Meu único temor é que para alcançarem o poder tornem-se masculinizadas, cometendo os mesmos erros dos homens. O mundo precisa ser mais... feminino. Em momentos de crise, em geral os homens partem para o confronto, enquanto as mulheres buscam o diálogo. Seus genes guardam uma natureza agregadora, não-violenta, graças ao fato de serem as responsáveis pela perpetuação da raça humana. Acho que é hora de darmos espaço a elas e desejo que não percam os atributos que as distinguem do sexo oposto. Power to the Female!

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Snakes on a Plane

O público americano que ainda frequenta cinemas ficou tão idiotizado que basta um título que misture dois elementos que dão grana que os produtores podem ficar tranquilos recolhendo seus milhões, não importando a qualidade do filme. Já estão bolando a sequência desse traste cinematográfico, ao mesmo tempo imitações estão sendo produzidas. O negócio é um título chamativo. Algumas idéias, mas antes de lê-las uma advertência: pessoas com histórico de doenças cardíacas ou altos níveis de stress devem evitar a leitura devido à natureza escatológica de alguns títulos.

- Snakes on Cocaine
- Gays numa Gôndola
- Ants in my Pants
- Flatulência no Submarino
- Tarântulas na sua Bolsa
- Michael Jackson numa Creche
- João Kleber, Hebe e Clodovil na sua Casa
- Alckmin no Karaokê
- Lesmas de Skate
- Mineiros na Praia
- Talebans na Mansão Playboy
- A Brazilian on a Plane
- Paris Hilton na Rocinha
- Turistas Japoneses em Paris
- Velozes, Furiosos, míopes e astigmatas
- Jô Soares e Fausto Silva lutando nus no gel
- Fãs dos Engenheiros do Hawaii acampados do lado da sua barraca
- Crentes no trem na mesma cabine que a sua
- Schwarzenneger Presidente dos EUA
- George Bush em São Tomé das Letras

A Realidade da Mente - Parte 5 - Hipnose

Cheshire Cat

A hipnose está relacionada com a imaginação, trata-se de uma simples manipulação da consciência. Funciona através de sugestionamento. Exemplificando:

estenda seus dois braços de modo que fiquem na mesma altura. Feche os olhos. Imagine que sua mão esquerda está segurando uma pilha de livros pesados, enquanto a outra tem diversos balões de gás atados a ela. São tantos que podem erguê-la. Concentre-se nessas duas imagens por um tempo. Então abra os olhos. Seus braços continuam na posição inicial?

Por alguns momentos foi como se aqueles livros e balões de gás estavam lá. Sua imaginação assumiu o controle de seus músculos por um breve período. Essa é a mecânica da hipnose. Você não pode ser hipnotizado contra sua vontade. Uma simples descrição de um evento o transporta para ele, como você tivesse vivenciado o que está ouvido.

Changes

O inconsciente não faz distinção do real e do imaginário. Se você cria mentalmente uma cena e a mantém em seus pensamentos, vai começar a experenciar seus efeitos na realidade. Suponhamos que você seja gordo/a. Crie uma imagem mental de você mesmo magro e cultive essa imagem. Não se surpreenda se seus regimes começarem a fazer efeito. Esse é o poder da hipnose.



Um "transe desperto" ocorre quando você concentra toda sua atenção no que está fazendo. Ficar inteiro no momento. Como quando você está assistindo um bom filme. Isso é uma forma de auto-hipnose e certamente vai te proporcionar muitos ganhos ao longo do tempo. A qualidade de seu trabalho vai aumentar, seua relacionamentos pessoais vão melhorar, a vida ganha mais sentido. Em posts anteriores falei de um filme chamado Waking Life. Decorei uma frase desse filme que resume o post: tudo o que você tem é o aqui e agora. E isso é o Infinito

Fractal Worlds 2

(imagens de Kerry Mitchell)

sábado, 16 de setembro de 2006

A Santa Ceia do Da Vinci já era...

Não é novidade que a Igreja Católica está perdendo os fiésis para os evangélicos - e esses são uns putas exploradores de gente pobre tenho nojo deles, tanto nojo que não tô nem aí se você vai. A seita dos Adoradores dos Jedis já existe, não sou fã de Star Wars, gostava dos antigos quando era criança. Mas em homenagem à exibição do episódio inédito hoje na tv a cabo e apresentando uma alternativa ao menos mais honesta àqueles que procuram um culto ou algo assim, sem falar no impacto que isso teria na juventude em benefício dos católicos aí vai a Santa Ceia Jedi: (click prá aumentar)

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Momento Kulto e Glosso

"Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?"

Nietzsche, Assim Falou Zaratustra

Momento Kitsch e Fino

Gosto do Raul Seixas e sobretudo da sua capacidade de escrever letras à Bob Dylan, como Ouro de Tolo a baladas à Odair José, como neste exemplo hilariante. Ideal para ouvir num boteco decadente de Sorocaba acompanhado do garçom e uma garrafa de Contini:

TU ÉS O MDC DA MINHA VIDA (Raul e Paulo Coelho)

Tú és o grande amor da minha vida,
pois você é minha querida, e por você eu sinto calor.
Aquele seu chaveiro escrito "love",
ainda hoje me comove me causando imensa dor.

Eu me lembro, do dia em que você entrou num bode,
quebrou minha vitrola e minha coleção de Pink Floyd.
Eu sei, que eu não vou ficar aqui sozinho,
pois eu sei que existe um careta, um careta em meu caminho...

Nada me interessa nesse instante,
nem o Flávio Cavalcanti que ao teu lado eu curtia na TV...
Nessa sala hoje eu peço arrego, não tenho paz,
nem tenho sossego, hoje eu vivo somente a sofrer...

E até , até o filme que eu vejo em cartaz,
conta nossa história e por isso eu sofro muito mais...
Eu sei que dia a dia aumenta o meu desejo,
e não tem Pepsi-cola que sacie a delícia dos teus beijos...

Quando eu me declarava você ria,
e no auge da minha agonia, eu citava Shakespeare...
Não posso sentir cheiro de lasanha,
me lembro logo das casas da banha onde íamos nos divertir...

Mas hoje , o meu Sansui-Garrat-Gradiente
só toca mesmo embalo quente pra lembrar do teu calor...
Então eu vou ter com a moçada lá do Pier,
mas pra eles é careta se alguém, se alguém fala de amor...

Na Faculdade de Agronomia,
numa aula de energia, bem em frente ao professor...
Eu tive um chilique desgraçado,
eu vi você surgindo ao meu lado no caderno do colega Nestor...

É por isso, é por isso que agora em diante
pelos 5 mil auto-falantes eu vou mandar berrar o dia inteiro,
que você é o meu máximo denominador comum

Obs: acho que dá prá ouvir aqui

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Fragatas, aranhas e arraias cruzam galáxias de cristal

Li na Wikipedia que Spelljammer é uma evolução do RPG Dungeons & Dragons. Não me ligo muito nessas coisas, achava que RPG referia-se àquela coisa de postura corporal, mas achei legal o fato de misturarem sci-fi com aventuras tipo capa-e-espada. As naves são galeões, pássaros, peixes. Os sistemas planetários ficam contidos em esferas de cristal. Spelljammer é uma nave mitológica em forma de manta (um tipo de arraia gigante), aparentemente inspirada nas lendas do holandês voador, muito comentada mas pouco vista. É um ser vivo, tem vontade própria e é capaz de procriar - não me pergunte como. Coisa de adolescentes americanos geeks e seus inseparáveis óculos e espinhas. Mas há um lado quase poético nesse Universo virtual que achei fascinante. A manta é tão misteriosa que não achei uma imagem decente no google.