Não tenho mais tv paga. Achei que, além de ser uma decisão coerente com os princípios que exponho aqui no blog, seria uma forma de eu me sentir menos lesado por "eles", seja lá quem são. Recebemos em reais, mas a conta da tv paga é em dólar, com preço semelhante, ou superior, ao cobrado nos EUA ou Europa. E, cá entre nós, é tudo muito ruim, tendo em vista o nosso gasto. E parece que está piorando. O canal GNT, por exemplo, é uma sigla de "Globosat News Television". Um canal de jornalismo, certo? Errado, os caras conseguiram estragar com o único canal que eu realmente gostava. A quantidade de documentários, estrangeiros e nacionais, era enorme, em geral de alto nível. Coisas que me lembro até hoje, como Dreamland (sobre a área 51), Pierre Fatumbi Verger (antropólogo francês que pesquisava crenças africanas), As Fitas do Iceman (um serial killer), o espetacular Olhos Azuis (um experimento polêmico sobre racismo, já falei dele aqui), Notícias de uma Guerra Particular ( doc do João Moreira Salles e Kátia Lund, que depois fez Cidade de Deus), o programa TV Nation, apresentado pelo Michael Moore, antes de ele virar um pavão mal vestido de boné etc.
Hoje exibem séries, filmes, além umas coisas vexatórias como Saia Justa e o programa da Rita Lee (felizmente esses acabaram, acho). De um canal de um tipo de informação que antes não tínhamos acesso, o GNT virou uma espécie de revista Cláudia na tv. Já há canais de filmes e séries demais, eu quero ver documentário, coisas da BBC, da PBS, do canal +. Mas não, ficam nos empulhando com dezenas de programas sobre saúde e boa-forma, um tipo de doença do Século XXI, e coisas sobre gastronomia e vinhos, outra doença contemporânea. Chega, não tenho dinheiro pra comprar o vinho Cornollino della Putanesca, e mesmo se tivesse, só compraria pra quebrar na cabeça daquele Renato Machado.
Tudo isso pra falar que voltei ao não menos oneroso hábito de alugar DVDs. Nos últimos 4 dias vi 10 filmes. O número no final é sua nota, recomendo apenas os acima de 5.
-United 93: de Paul Greengrass. Conta a história do sequestro em 11/9/01 de um dos aviões que, presume-se, seria jogado sobre a Casa Branca se os passageiros não tivessem agido e atacado os terroristas. Tenta maneirar na patriotada, mas achei chato. 4/10.
-Match Point: com Scarlet Johansson (suspiro). De longe, o melhor filme dessa lista, o melhor que vi nos últimos meses. Woody Allen narra uma tragédia em Londres. Uma alegoria sobre o papel do destino em nossas vidas. Grandes personagens, dilemas ainda maiores. Porque não clonam uns 10 Woody Allens para dar uma melhorada na qualidade geral dos filmes? Impecável. 9/10.
-O Virgem de 40 Anos: de Judd Apatow. Esse filme é tão queima filme que sinto que é necessário eu justificar sua locação. Aluguei porque acho engraçado o protagonista, Steve Carell. Como não tinha nenhuma expectativa positiva, me surpreendeu, não é tão grosseiro como imaginava. 6/10.
-Stoned: de Stephen Wooley. Os últimos meses de vida do fundador dos Rolling Stones, Brian Jones. Consegue captar a atmosfera dos anos 60 fazendo bom uso da fotografia, mas falta um ator principal mais tarimbado, além de a produção mostrar-se um tanto precária. 5/10.
-Penetras Bons de Bico: de David Dobkin. Incrível a capacidade do cinema americano arruinar boas idéias. Tinha tudo para ser uma ótima comédia, mas é tolo como toda comédia recente e pra piorar resvala na pieguice. Chris Walken, um dos melhores atores da atualidade, paga seu mico habitual. 4/10.
-V de Vendetta: de James McTeigue. Tinha lido os quadrinhos nos anos 80, a adaptação resumiu demais a história, virou uma mistura de 1984 com O Conde de Monte Cristo. Devia ter falado sobre ele no post sobre distopias. Mas é dos caras do Matrix, o elenco é bom, Natalie Portman linda e eficiente, o tom, idealista. Destaque para meu ídolo Stephen Fry como host de um infame talk show. 7/10.
-Transamerica: de Duncan Tucker. Ótimo filme sobre um travesti que descobre ter um filho adolescente na véspera de fazer a cirurgia para mudar de sexo e se vê obrigado a conhecê-lo. Não é só um filme sobre gays, é um sensível olhar sobre como as relações humanas propiciam crescimento pessoal. A atuação de Felicity Huffman, de Desperate Housewives, é notável. 8/10.
-O Sacrifício: de Neil LaButte. Hoje em dia é assim: os roteiristas não conseguem ter novas idéias, aí reciclam velhos conceitos. Esse é uma refilmagem do incomparável The Wicker Man, sem nenhuma de suas qualidades. Uma verdadeira bomba, e olha que o diretor começou fazendo o interessante Nurse Betty. 3/10.
-O Jardineiro Fiel: de Fernando Meirelles. Não consegui entender porque é tão celebrado. O cara dirige um filme excelente em seu país, aí os americanos o importam e fazem ele pisar na bola em seu segundo filme. Achei lento, pretensioso, parece um desses insossos candidatos ao oscar que aparecem todo ano. Na mesma temática, prefiro O Senhor das Armas. 5/10.
-O Albergue: de Eli Roth. Meu Deus do céu, para casos como esse defendo até a volta da censura. Um filme essencialmente ruim, apelativo, sádico, onde nada se salva. Se antes desse filme ser feito podíamos dizer que o cinema não incita a violência, depois dele essa sentença torna-se questionável, pois dá vontade de dar porrada em todos aqueles envolvidos em sua produção (o que Tarantino está fazendo como produtor executivo?). Ainda esculhamba todo um país, a Eslováquia, da forma que só oliú sabe fazer: irresponsável, preconceituosa e ignorante. 2/10.
Acho que vou passar a fazer isso sempre. O problema é que a locadora mais próxima tem um acervo muito limitado. Quando tinha 12 anos tinha um caderninho onde resenhava todo filme que via. Revendo esse caderninho, vejo o quanto era pouco exigente, mas também o quanto já era obcecado com cinema. Fiz até uma versão pessoal do oscar, os mais premiados são Um Corpo que Cai, Os Intocáveis e Robocop. Velhos hábitos nunca morrem.
4 comentários:
Eu também por algun$ motivo$ estou sem TV a cabo, e por coincidência tenho alugado bastante filmes.
Cheers
Ruivo.
Não vi ainda alguns da sua lista.
Agora, só em março.
:(
Mas anti-heróis são os meus preferidos, u know. :P
V pra mim é sempre V.
Do jeito que eu gosto, e do jeito que eu quero.
Vou enviar depois o link de Crazy pra você assistir.
Tem um pedaço que sei que vai pirar. Não digo qual. :P
E, eu gosto do Saia Justa. :)
Coisa de mulherzinha, dá licença?
Nhé nhé nhé!
Beijoca pra você.
Amasso nos gatitos e apertos nos cachorritos.
Penetras bons de bico gostei +-..mas daria 5/10
Jardineiro fiel gostei mto 8/10 e "V de Vendetta" em português é "V de vingança"rss e tb gostei muiiiito 8/10
pirei vendo V de Vingança justamente por causa das associações com 1984 e O Conde ( q eu adoro!), o chato foi ter q explicar pros meus amigos o que era 1984 (é, esse é o grande problema da minha vida...). Mas enfim, tb gosto de Senhor das Armas, mas Jardineiro Fiel é tao lindo! é um filme lírico de final aterrorizador pois me pesa nosso impotencialidade perante o mundo... e vcs nao acharam um pouco paracido com Diamante de Sangue?
Postar um comentário