quarta-feira, 9 de maio de 2007

Ragnarök (e outras escatologias)

Já publiquei diversos posts sobre mitologia egípcia e achava ótimo, aprendi muita coisa. Esse assunto não faz parte do currículo escolar, o que é um grande erro. Por trás de seu anacronismo e total ausência de base científica, (a ciência, ao contrário do que muitos pensam, não é uma Deusa que determina o que é e não é verdadeiro ou relevante) os mitos são os registros que mais se aproximam do mistério que ainda é nosso passado. São lendas atemporais, universais, plenas de símbolos cujo significado poderia responder questões que fogem a uma interpretação racionalista.

Enquanto pesquisava o assunto na web deparei-me com a fascinante Mitologia Nórdica. O que me chamou a atenção foi o termo "Ragnarök", nome de uma banda de garagem de BH cujo significado nunca descobri. Vou começar com ela. Mas se digitar o termo no google vai ver que para o cyberespaço, Ragnarok é um jogo. Tsc, tsc.

Mitologia Nórdica (ou Escandinava) é o nome que se dá à religião, crenças e lendas pré-cristãs dos povos que habitavam a Islândia, Noruega, Suécia e Dinamarca - a Finlândia é tida como um país báltico. Tem muitos pontos em comum com os mitos Germânicos e Anglo-Saxões. Foi transmitida em forma de versos oralmente através dos séculos até ganhar um registro escrito no século XIII com o Edda, épico oriundo da Islândia. Hoje em dia é tão vital para a identidade cultural desses povos que um novo movimento religioso, o Ásatrú, está sendo formado para reviver o paganismo nórdico. Mais um indício que atesta o quão profundo e generalizado está essa carência espiritual das pessoas em todo o mundo. Mas não é disso que quero falar, não hoje.

Ragnarök é a batalha do fim dos tempos, equivalente ao nosso Apocalipse cristão. Significa "destino dos Deuses". De um lado teremos o Aesir, o panteão que reúne todos os Deuses nórdicos, liderados por Odin; do outro, as forças do caos, gigantes monstruosos, unidos pela intrigante figura de Loki. Estou vendo que pra contar essa história direito, antes vou ter que contar outras. Por enquanto vale dizer que o dia que Ragarök acontecer será o fim não apenas da Terra, mas de todo o Universo. Interessante notar também que o tal Aesir sempre esteve ciente dessa tragédia, e que são impotentes para evitá-la. Mesmo assim, vão corajosamente enfrentar seu destino. Estudiosos do assunto acreditam que aí reside uma crença de que o mundo organizado e ordenado fatalmente e inevitavelmente sucumbirá à entropia, ao caos. Sem querer dar uma de arauto da destruição, mas será que isso já não está rolando? Pode-se encontrar similaridades na mitologia grega - as crianças horrendas de Urano - e na babilônica - Tiamat, a Deusa da Criação dá luz a monstruosidades como homens-escorpião e sereias. Involuntariamente esse post tá mudando de assunto...

Relatos sobre o fim do mundo como o conhecemos são tão onipresentes que ganharam até um nome: escatologia. (Até hoje não sabia o significado dessa palavra, achava que tinha a ver com umas coisas bem porcas.) Ela é parte de narrativas sagradas das religiões mais importantes do planeta. As monoteístas ocidentais invariavelmente mencionam um evento onde seus adeptos mais valorosos serão escolhidos para serem alçados a uma espécie de paraíso, enquanto os outros serão submetidos à fúria divina. Cristãos, judeus, muçulmanos, todos aguardam o retorno do Messias e o dia do Julgamento Final. Os hindus também acreditam que o mundo entrará numa espiral de caos e degradação, o Kali Yuga; mas o décimo avatar surgirá como manifestação divina e com sua espada de fogo vai restabelecer a ordem e a mente das pessoas se tornará transparente como o cristal. Já o budismo... outro dia falo do budismo. Mas que essa coisa de esperar o Messias é uma grande perda de tempo, isso é. Não seria essa uma forma de transferir a responsabilidade de transformar o mundo em um lugar melhor a entidades sobre-humanas, tão perfeitas que só existem no âmbito mitológico? Uma confissão de nossa incapacidade de superarmos nossas fraquezas?

P.S.: viram o fantástico domingo passado? Horas depois de eu escrever sobre a Witness, a ONG do Peter Gabriel, ela foi objeto de uma matéria do programa da globo. Odeio o fantástico, mas não posso negar que achei a coincidência bacana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Afe.
Um comentário para um post desse tem de ter dez páginas, no mínimo.
Mas...

Quanto ao P.S. Não vejo como coincidência. Mas como sincronicidade.

Sobre o Messias: sempre foi assim e sempre vai ser. Bem antes de Jesus, já acontecia isso, enton...
E, concordo com você. Transferimos a responsabilidade de muito do que vivemos e sentimos para o outro.
Em todas ou quase todas as esferas conhecidas.
Coisa de humanos. :P

Assim como você, escatológico, pra mim, vinha de coisa nojentinha.
Vivendo e aprendendo com o Professor Lôro.

Há tempos você falou sobre esse post "Ragnarök". Bacana ter resolvido escrever. Poderia escrever mais. Adoro o assunto.

Cada panteão tem suas particularidades e tal, mas viu como eles sempre têm pontos em comum?
Gostaria de ter mais tempo pra ler sobre o assunto.
São tantas as coisas que quero ler. Tantas, tantas...

Sobre símbolos, arquétipos e etc, já viu "o dicionário dos símbolos"?
Está na minha lista de compras.
Com mais cem mil coisas.
Jung fala muito sobre isso também.

E, uma coisa totalmente off-topic: deixe pra comprar a tv depois dos dias das mães. Fui ontem ver se tinha subido e os preços estão na estratosfera.

Beijo.

P.S. Saudade.