-Marilyn Monroe tinha 6 dedos do pé.
-A mãe de Adolph Hitler pensou seriamente em fazer um aborto, mas seu médico a convenceu do contrário.
-Ursos polares são sempre canhotos.
-O olho de uma ostra é maior que seu cérebro.
-Estrelas do mar não têm cérebro.
-O orgasmo de um porco dura 30 minutos.
-Humanos, chimpanzés e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.
-Borboletas provam sabores com os pés.
-Ratos e cavalos não vomitam.
-Uma lesma pode dormir por 3 anos.
-A cadeira elétrica foi inventada por um dentista.
-Todos os relógios no filme "Pulp Fiction" marcam 4:20.
-Em média, um ser Humano faz sexo mais de 3.000 vezes e passa duas semanas beijando durante sua vida.
-Em média, um ser Humano come 70 insetos e 10 aranhas enquanto dorme durante sua vida.
-É mais provável que você morra atingido por uma rolha de champanhe que por uma picada de aranha.
-Nossos olhos conservam o mesmo tamanho desde o dia que nascemos, mas orelhas e nariz nunca param de crescer.
-Se você peidar ininterruptamente por 6 anos e 9 meses, produz-se gás com energia suficiente para se construir uma bomba atômica.
-Originalmente, a Coca-Cola era verde.
-O nome "Wendy" foi criado para o livro Peter Pan.
-Se na estátua de uma pessoa sobre um cavalo ele estiver com as duas patas dianteiras no ar, significa que essa pessoa morreu em uma batalha. Se o cavalo tiver uma pata no ar, a pessoa morreu em decorrência de ferimentos da batalha. Quatro patas no chão significam que a pessoa teve morte natural.
-A guerra mais curta da História foi entre Zanzibar e Inglaterra, em 1896; os ingleses venceram após 38 minutos de combate.
-Os pais mais jovens da História tinham 8 e 9 anos e viviam na china, onde o bebê nasceu em 1910.
-Inventaram um novo jogo na Escócia. Chama-se "Gentlemen Only Ladies Forbidden", mas como o nome é muito comprido, abreviaram para "GOLF".
-Repelentes contra pernilongos não repelem, mas te escondem. A substância bloqueia seus sensores, impedindo-os de te acharem.
-Mais de 75% das pessoas que lerem isso vão tentar lamber seu próprio ombro. Então tá.
Acredite naqueles que buscam a verdade. Duvide dos que já a encontraram. André Gide
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
Cultura Inútil também é Cultura - 25 Fatos relevantes e refinados
domingo, 28 de janeiro de 2007
Grandes Enigmas da Humanidade - Parte 4 - OVNIs ao longo da História
Sou aficcionado pelo tema. No entanto, a quantidade de fraudes com que me deparei ao pesquisar o assunto me deixou mais cético. Se antes eu tinha certeza que ainda veria provas materiais confirmando o existência de vida inteligente em outros planetas, hoje considero essa hipótese altamente improvável. Verdadeiros ou não, a mitologia em torno dos Ovnis é tão rica que oferece insights interessantes sobre a natureza humana.
Por exemplo, o tipo mais comum de alienígena descrito por testemunhas é o homenzinho cinzento, de baixa estatura, sem pêlos no corpo, braços e dedos longos e delgados, cabeça em forma um ovo invertido, desproporcionalmente grande, olhos enormes, nariz ausente, boca pequena. O fato de essa criatura aparecer em inúmeros relatos distintos comprovaria sua autenticidade? Duvido. Imaginação fértil e auto-sugestão nos fazem ver coisas irreais. Em um documentário no Discovery Channel, um especialista explica que provavelmente o alien cinza é uma projeção inconsciente de nós mesmos daqui a milhares de anos. Faz sentido: no futuro não executaremos trabalhos braçais, daí o afinamento dos membros. O olfato, outrora importante, gradualmente perdeu sua utilidade, por isso a ausência de nariz; da mesma forma encontraremos métodos mais eficientes e menos dispendiosos para nos alimentarmos, justificando a boca pequena e talvez desprovida de dentes. O crescente uso de nossas faculdades mentais, visuais e manuais resultaria no aumento da caixa craniana, do tamanho dos olhos e do comprimento dos dedos. Ele seria, portanto, o resultado de nossa evolução.
Mas é claro que há muitas perguntas sem respostas envolvendo possíveis visitas de entidades que não pertencem a este mundo. Há passagens curiosas na Bíblia, um dia vou falar delas. E o que dizer dos objetos voadores nas obras de arte a seguir? Escolhi algumas entre dezenas de exemplos que encontrei na web. Elas invalidam a tese que OVNIs são, na verdade, projetos secretos de aeronaves das grandes potências?
Pinturas achadas em cavernas na Austrália, data ignorada. Os aborígenes chamam esses seres de "Wandjina". São tão medonhos que vão me causar pesadelos.
Moisés recebe as Tábuas da Lei enquanto objetos caem do céu em obra encontrada na Bélgica. Data e artista desconhecidos.
Bizarra estatueta de 6000 anos, encontrada em Kiev, Ucrânia.
"A Anunciação com Santo Emidio" (1486), de Carlo Crivelli. O disco no céu emite um raio em direção a Maria. Abaixo um zoom focando o objeto.
"O Batismo da Igreja" (1710), de Aert de Gelder. Raios de luz sobre Jesus e João Batista. A grande quantidade de pinturas mostrando Jesus, Maria e outras figuras bíblicas no mesmo ambiente de possíveis OVNIs e extraterrestres é bem sugestiva. Dizem que Cristo era bom demais para ser humano.
"Madona com São Giovannino" (séc XV), de Domenico Ghirlandaio. Acima do ombro direito de Maria há um disco no céu. Abaixo pode-se ver também um homem olhando para ele.
Jesus e Maria aparecem sobre... uma nuvem? Com várias... nuvens atrás. "O Milagre da Neve", do italiano Masolino di Panicale (1383-1440). Ela pode ser vista em Florença.
Essas imagens de um manuscrito Século XII se referem a um avistamento de um OVNI em 776, durante o cerco ao Castelo de Sigibourg, França. Os saxões estavam prestes a invadi-lo quando o objeto surgiu no céu e eles julgaram ser alguma entidade defendendo os franceses. Fugiram apavorados e desistiram da conquista.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
homens públicos na Res Publica
O Brasil é um paísgeométrico: tem problemas angulares, discutidos em mesas redondas, por bestas quadradas. (anônimo)
É raro eu falar de política ou civismo aqui. Estou, obviamente e mais do que nunca, desiludido e com repugnância dos "homens públicos". Expressão bem hipocratazinha, sobretudo se nos referimos aos políticos brasileiros. Um homem público em geral pode ser muita coisa, nenhuma delas elogiosa, menos público. Vivemos numa Res Publica ("coisa do povo" em latim, eu acho) onde essa coisa é sistematicamente violada, dilapidada, desvalorizada. Seu propósito essencial, na prática, é enriquecer aqueles que têm acesso a ela, à coisa, às tetas. Se sobrar algum, aí terminam aquela caríssima obra pública superfaturada e de péssima qualidade. Relespública.
Desse ponto de vista, nossos protestos por: melhores ruas e estradas, metrópoles mais humanas e mais seguras, escolas e hospitais públicos melhor aparelhados e com bom profissionais etc, soam despropositados. Bem, não exatamente, mas desse modo estamos combatendo apenas o efeito do agente patológico (sugiro mudar a expressão "homem público" por "agente patológico") e não o próprio agente. Antes de mudarmos os fins, mudemos os princípios. A derrubada do Collor foi a última vez em que o povo brasileiro - povo no sentido de esmagadora maioria barulhenta, 150 milhões de pessoas ultrajadas gritando - mostrou estar vivo. Fora isso exercemos nossa cidadania limitando-nos a votar (não vale, é obrigatório) e protestar de forma isolada e cada vez mais resignada, como se não houvesse mais como fazer o Estado servir o cidadão, apenas o cidadão, todo cidadão, indistintamente. Na Argentina, onde também há uma infestação endêmica de agentes patológicos nas esferas públicas, o povo vai bater panela na rua quando tem escândalo, não engole sapo como ocorre no Brasil . Por quê?
Buenos Aires não é limpa como as metrópoles do norte da Europa ocidental. Mas não é hostil com o pedestre nem deixa acumular montanhas de lixo na rua como vemos nos subúrbios do Rio, SP ou BH. Lá você não é engolido por uma cratera de 90 metros nem é vitimado pelas aulas práticas de tiro da polícia ou dos bandidos. As calçadas são mais largas, os sinais, mais respeitados, há uma maior preocupação em conservar fachadas bonitas em vez de sufocá-las com publicidade; espaços públicos mais numerosos, mais amplos e bem conservados. O argentino parece que sacou que a transformação de seu país passa pela transformação de si mesmo. Aqui delegamos a tarefa aos políticos e continuamos jogando lixo na rua, tentando subornar o guarda, pedindo o amigo vereador para fazer tráfico de influência etc. Enquanto isso, o político é o primeiro a sonegar o imposto que ele mesmo criou. Ok, é claro que há exceções na Argentina, como barrabravas do Boca, homens públicos que só pensam no privado (outra sugestão: homens-privada) e gatunos levando a bolsa da filha do Bush, mas qual metrópole não tem torcedores exaltados, políticos imorais ou pickpockets? Acho que dois fatores primordiais e intrinsecamente ligados explicam essa dicotomia: educação e auto-estima.
Posso estar falando bobagem, mas a história da Argentina tem tantos episódios vexatórios quanto a nossa (remember la guerra del Paraguay y las dictaduras militares...). Ainda assim, os argentinos têm a firme convicção que merecem viver em um país melhor e que podem mudá-lo. De forma geral, passaram mais tempo em estabelecimentos de ensino que os brasileiros, e seus professores tiveram formação melhor. Sua taxa de analfabetismo é 5 vezes menor que a nossa. Mesmo a elite brasileira tem uma péssima auto-imagem, mais por vícios culturais que por falta de informação. Conhecimento gera identificação, incrementa conexões. O Caetano passa as (várias) idéias em Sampa:
É que Narciso acha feio Posso
O que não é espelho
E a mente apavora
O que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos, espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva
Pan Américas de Áfricas utópicas
Do mundo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
Que os novos baianos passeiam
Na tua garoa
E novos baianos te podem curtir
Numa boa
Noutra música ele cita Sartre:
“aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”
A cultura pode nos ligar a nossa pátria em campos além dos de futebol. Só se ama o que se conhece e, quanto mais se conhece, maiores são as chances de amar e respeitar. Acho que é simples assim.
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Eu, Robô
Andava de modo automático, passando pelas pessoas que via diariamente sem cumprimentá-las. Olhar para a cara de cada um, checar se é "cumprimentável" no arquivo e em caso positivo, decidir qual tipo de cumprimento. Isso tudo acontecendo dezenas de vezes, cada vez durando frações de segundo. Não, aquilo era muito trabalhoso, cansativo, além de perigoso. Algumas pessoas são imprevisíveis, poderiam causar algum tipo de embaraço, expô-lo ao ridículo, porque, de fato, ele era um cara meio devagar. Então não cumprimentava ninguém, olhava no rosto das pessoas mas são apenas imagens borradas, não remetem a nada, não têm valor nem significado. Desse modo ele poderia ficar imerso em seu mundo interior, distraído com pensamentos desconexos, relembrando seus filmes, suas músicas, seus programas de tv. Coisas previsíveis, cujo início, meio e fim sempre estarão no mesmo lugar, não havendo risco de ser surpreendido com algo inesperado. Isso sem falar que ao conversar com alguém seu rosto ou sua linguagem corporal poderiam traí-lo, como se dissessem: "não preste atenção nas minhas palavras, estou me escondendo atrás delas."
Isso eu acabei de escrever. O anúncio me chamou a atenção.
Por falar em robô, uma ardilosa armadilha publicitária. Um site inegavelmente elegante. Por alguns instantes eles quase me convenceram que são verdadeiramente profundos e que seu objetivo é levar-nos à reflexão. Não, eles não querem que você associe seu whisky a mentes privilegiadas, declarações poéticas e intelectualmente brilhantes, (que maldade!) de modo que meta as caras na manguaça e se ache o bambambã . Afinal, todo bêbado se julga eterno. Esses caras da Johnny Walker são filósofos partilhando um mergulho esclarecedor em nossa psiquê, apresentando um libelo em defesa da condição humana. (quaquaquá)
http://www.theandroid.com/
Sobre o racismo
Li uma poesia no blog "imagens, sonhos e paixões" bastante semelhante ao relato de um padre protestante europeu na Segunda Guerra. Diz mais ou menos assim: "Quando vieram os nazistas e levaram os judeus eu não falei nada porque não era judeu. Aí depois eles levaram os ciganos, os gays, os comunistas e eu não me manifestei em nenhuma das vezes porque não pertencia a nenhum desses grupos. Até que eles vieram me buscar e eu nada pude fazer porque não havia ninguém mais para me defender."
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
Conhece o Cthulhu?
H.P. Lovecraft, no conto Call of Cthulhu
Tradução:
Uma das maiores bençãos do mundo, creio eu, é a incapacidade que tem a mente humana de correlacionar todos os seus conhecimentos... algum dia a concatenação de conhecimentos dissociados há de descortinar panoramas tão terrificantes da realidade e de nossa pavorosa posição nela que ou a revelação nos enlouquecerá ou fugiremos da luz fatal para a paz e segurança de uma nova Idade das Trevas.
Dilema
Ok, a epígrafe ficou boa. Estou em dúvida. Será que falo do Lovecraft, com seu estilo démodeé e algo repetitivo, originalmente escrito em inglês quase arcaico - e ele era americano - cheio de adjetivos e descrições? Ao contrário da citação, seus contos funcionam como quebra-cabeças onde ele fornece uma peça de cada vez, e vamos ligando uma à outra. Uma tática magnetizante, como em um vórtex, giramos, giramos, em direção ao centro, o último parágrafo da história, onde sempre uma realidade aterradora é revelada, algo tão inimaginavelmente perverso que nos suga para o fundo, nos afogamos em uma verdade que deveria manter-se ao largo de nosso conhecimento. E vamos correndo ler o conto seguinte.
Ou posso abordar um tema mais fácil (?). Mitos de criaturas humanóides aladas, presentes no folclore de várias culturas. O Mothman, o homem-mariposa da Virgínia, onde foi avistado por dezenas de moradores da cidadezinha de Point Pleasant nos anos 60. O filme A Última Profecia, adaptação do livro de um certo John Keel - que fez uma extensa pesquisa sobre os eventos e publicou a obra como não-ficção - narra a história com uma elegância que falta à maioria dos filmes de horror. Uma das hipóteses levantadas, bastante fantasiosa, afirma que essa criatura de fato existe e apesar de não especificar sua origem nem o que é o Mothman, diz que ele aparece nas vésperas de algum acontecimento trágico para alertar as pessoas do perigo. Na Virgínia as aparições cessaram depois que uma ponte caiu e matou dezenas de pessoas. O mesmo aconteceu em Chernobyl (extinta URSS) antes do desastre na usina nuclear nos anos 80. Também nos EUA há um mito semelhante, o Jersey Devil e na Inglaterra o mito de Spring-Heeled Jack. E eu tenho um livro desse Keel, Criaturas do tempo e e do espaço ou algo assim, mas não consegui achá-lo. Até que dá para escrever sem ele, mas vai empobrecer o post.
Em compensação, enquanto procurava o livro topei com Um Sussurro nas Trevas, coletânea de contos do Lovecraft. Achei isso bem significativo, com certeza o Mothman me mandou um sinal alertando para não falar sobre ele. Ou seria Azathoth, discípulo do Grande Cthulhu sutilmente sugerindo que fale dele (faço o sinal da cruz e olho apreensivo para a janela, lá fora as intimidantes trevas chuvosas)? Não sou esse lunático obcecado com ciências ocultas dos últimos posts, ou melhor, parte de mim é. Uma combinação de fatos - estou a pé, moro no meio do mato, chove sem parar, férias, sem grana - me impeliu para esse mundo que renega o cotidiano.
Teoria do espectador/leitor infeliz
Jacques Bergier, um francês bastante imaginativo, co-autor do fascinante, mas olvidado, O Despertar dos Mágicos, disse que "Talvez seja necessário que uma pessoa tenha sofrido muito para apreciar Lovecraft". Porque alguém se interessaria por um autor cujo pré-requisito para ser lido seja tão repulsivo? Quem sabe um desencanto da Humanidade consigo mesma ao constatar-se que caminhamos céleres para a auto-destruição. Lovecraft (1890-1937) não teve reconhecimento algum em vida, pelo contrário. Foi só no pós-guerra, especialmente nos últimos 30 ou 40 anos, que ele ganhou fama e tornou-se uma espécie de Tolkien sombrio, pois ambos criaram mitologias riquíssimas, só que O Senhor dos Anéis está para o mito de Cthulhu assim como a espingarda de chumbinho está para uma bazuca.
Os fãs de Lovecraft partiriam do pressuposto que a vida é dor e decepção e que, portanto, é inútil escrever romances realistas. Sabe-se onde está em relação à realidade e isso basta. Todas essas tentativas de capturar o real na ficção não passam de confirmações de algo que já aprendemos em nossas vivências. Ele nunca soube disso, mas acho que foi o primeiro metaleiro da História. Porque a trilha sonora de sua obra incluiria Black Sabbath, Iron Maiden e um ou outro Led Zeppelin.
Não concordo totalmente com esse pressuposto, mas tenho uma teoria que as pessoas felizes não se interessam muito por livros e filmes. Quem gosta de mergulhar na escuridão do cinema ou de se enfurnar em livrarias e bibliotecas está buscando realidades alternativas. Digam o que quiserem, o fato é que o acesso ao universo artístico é quase uma exclusividade de quem está meio de saco cheio com a vida.
Um cara esquisito
Lovecraft estava totalmente de saco cheio da vida enquanto seu coração bateu. Aos 18 anos teve um colapso nervoso e se refugiou em sua casa nos 10 anos seguintes. Algumas vezes passava dias sem sair do quarto, a mãe trazendo as refeições, a única pessoa com quem se comunicava. Seu pai havia ficado louco e morrera em um hospício quando Howard Phillips (o HP) tinha 8 anos. Nada despertava seu interesse, a não ser mexer no jardim ou brincar de trenzinho - estamos falando de um adulto.
Em uma carta a um amigo ele definiria esse período após a adolescência como "um inferno". Ele nutria um profundo desprezo pelas religiões, as aspirações humanas eram fúteis e sem utilidade, o universo todo produto do caos, o Homem apenas algo transitório, uma raça entre milhões, nada é sagrado, nada tem significado, bem, mal, ética e moralidade, Deus, tudo não passa de "ficções vitorianas", como afirmou em outra carta. O sentimento predominante no universo é o egoísmo.
Que visão lamentável, chega a ser masoquista. Ciente da condição miserável em que se colocou, disse também que "racionalizações tendem a minimizar o valor e a importância da vida e diminuir as chances de nos sentirmos felizes. A verdade leva à depressão, desespero em alguns casos até mesmo o suicídio". Em suma, a vida não tem sentido, mas a morte também não. É nesse ponto que Lovecraft começa a nos assustar. Não tem misericórdia com seus heróis, sua morte não significa nada, não há redenção. Indiferente a tudo isso, o universo caótico continua a expandir. Dessa indiferença, algo toma forma. O Grande Cthulhu desperta de seu sono.
Você pode não conhecê-lo, mas Cthulhu te conhece
Afinal, o que é Cthulhu? Fiel à sua filosofia atéia e materialista, Lovecraft responde que é nada além de uma disposição de elétrons, como nós. Mas é possível, dada a incerta interação de forças cósmicas, que tenha habilidades e poderes que desconhecemos. De suas jornadas por mundos imponderáveis, Lovecraft não tem boas notícias. Por trás da cortina da realidade, algo basicamente vil se esconde, mas às vezes permite ser visto.
Como já disse, também é possível que haja outras dimensões, outras raças, outras entidades. O que nos leva a pensar que sejam seres simpáticos conosco? Nada sugere uma transgressão das leis universais onde predomina o egoísmo. Certamente esses seres nos observam da mesma forma que olhamos um formigueiro no quintal de casa. O que é mais provável, jogar álcool e tacar fogo nas formigas para nos prevenirmos de elas nos incomodarem ou tentarmos ajudá-las levando comida e propiciando abrigo da chuva?
E se você se tornar um leitor de Lovecraft essa vai ser a sua concepção do universo, onde o medo é disposto em círculos concêntricos, camada por camada, até revelar o inominável, um lugar onde fatalmente seremos pulverizados e devorados. Quem trocaria sua própria visão de mundo, pautada pela existência de um Deus todo-poderoso, justo e bondoso por essas idéias assustadoras? Por incrível que pareça, cada vez mais gente. Se ele estivesse vivo, diria que o boom espiritual que vivemos agora, com igrejas evangélicas crescendo como cogumelos, assim como adeptos do islamismo e outras crenças, é mais um sinal que Cthulhu nunca esteve tão próximo. Em vez do Diabo, cuja figura se humanizou após séculos de convivência, os fãs de Lovecraft preferem temer Nyarlathotep, mais frio, mais mau, menos humano.
Creio que sua popularidade está sendo subestimada. Desde que Jacques Bergier o apresentou aos franceses, há pelo menos 15 escritores que se dedicam a explorar a mitologia que criou para escreverem novas histórias, tendo o cuidado de preservar o estilo, a ambientação, os personagens. Em uma época onde valoriza-se a originalidade, o fenômeno Lovecraft foi o precursor das fan fictions, histórias que homenageiam best sellers como Harry Potter, mas esse é um livro juvenil e inofensivo. A misantropia de Lovecraft é muito mais perigosa porque lida com nossas crenças mais arraigadas, seus mitos criaram um culto ao niilismo ou mesmo a um cristianismo às avessas, com seus valores totalmente subvertidos.
Contra o Mundo, Contra a Vida
Lovecraft admirava Conan Doyle por ter criado um personagem tão popular que ao morrer os protestos foram tantos que teve que ressuscitá-lo. O criador foi obscurecido pela criatura. No entanto, ele nunca imaginaria que fosse conquistar o êxito que tem hoje, na verdade ele achava que seu trabalho iria desaparecer junto com ele após sua morte. Lovecraft não se achava genial, pelo contrário, era humilde, nenhuma carta de admiradores que recebia ficava sem resposta. Por outro lado, seu caráter tinha tantos traços politicamente incorretos que sua fama atual é ainda mais surpreendente. Como se pode ver em seus contos, era profundamente racista, via negros e asiáticos como "criaturas inferiores", mais animais que humanos. Reacionário, moralista, puritano, considerava o erotismo uma aberração. Desprezava o dinheiro, achava a democracia uma idiotice e o progresso uma ilusão. Apesar de desprezar a Humanidade, era cortês e generoso com os amigos, e graças a eles sua obra não se perdeu.
P.S. Feito esse convite à reflexão, permitam-me acrescentar que, em doses homeopáticas, Lovecraft não faz tão mal assim. Para quem gosta de Stephen King ou Dean Koontz, ou mesmo fãs de sci-fi, seus livros são absolutamente originais e bem superiores. Na próxima vou falar de algumas histórias, como a das lagostas espaciais ou da raça de gigantes que viveu na terra antes do Homem e escreveu o destino de cada um de nós ou ainda do despertar de Cthulhu, grande como uma ilha, causando maremotos e um frenesi em cultos pagãos que envolvem sacrifícios humanos. Como se vê, não é para qualquer estômago.
domingo, 7 de janeiro de 2007
Jacek Yerka Strikes Again
É a terceira vez que ele ganha um post e eu achava que já tinha publicado suas melhores obras. Mas ao voltar a seu site descobri que não há sequer uma pintura dele que eu ache ruim. Não sei exatamente porque eu gosto tanto de seu trabalho, acho que é uma combinação das cores e do surrealismo inserido em paisagens bem comportadas.
Nascido na Polônia em 1952, sua palheta é claramente influenciada por Bosch e Brueghel, enquanto as formas remetem a Magritte, M.C. Escher e Salvador Dali.
O mundo de Yerka mostra imagens do passado, bucólicas, pré-industriais, corrompidas por elementos do presente, como automóveis, geralmente colocados no lugar de espectadores. Por trás do formalismo de seu traço há muita liberdade, não há limites para sua imaginação, objetos e criaturas têm sua forma e função distorcidos e mesmo assim a sensação que seu trabalho transmite é de paz e equilíbrio.
Acidentes geográficos como montanhas e rios ganham formas dinâmicas em composições que mesclam diferentes dimensões coexistindo, assim como criações humanas e elementos da natureza.
É impressionante o modo como consegue harmonizar paisagens, formas que desafiam leis da física e objetos totalmente fora de seu contexto.
Casas são recorrentes, ora revelando seu interior ou nos lugares mais inusitados. Suas pinturas me acalmam ao mesmo tempo que instigam minha imaginação. Acabo de descobrir que há um certo tom nostálgico em suas pinturas, que nos transporta para 50 anos atrás.
Da mesma forma que dizem que o som do Pink Floyd é sinestésico porque remete a imagens, a obra de Yerka é musical, lembra rocks lisérgicos como Cream e outros nem tanto, como The Turtles em Happy Together.
Será que estou viajando? Em breve mais Yerka.
Borges Retorna - O Milagre Secreto
Na manhã seguinte é conduzido para o local da execução e armas são apontadas para ele. Minutos depois ele se dá conta que elas não foram disparadas. Ele abre os olhos e vê que está tudo estático, parado, e percebe que de fato seu pedido foi realizado e o tempo é congelado por um ano. Enquanto é impossível deixar um registro de seu trabalho, Jaromir se esforça para editar e revisar sua peça até atingir a perfeição. Nesse exato momento o tempo volta ao normal e ele morre imediatamente.
sábado, 6 de janeiro de 2007
Links
Acha a situação atual no Oriente Médio complicada? Meu avô nasceu na Palestina, era judeu praticante e mesmo assim considerava a criação de Israel um absurdo que ia causar derramamento de sangue enquanto existisse sem que houvesse uma compensação justa para os palestinos. Nesse site, contudo, através de uma animação, (pode ser que demore um pouquinho para carregar, mas vale a pena) entendemos que a região sempre foi o quintal infeliz de mais de uma dezena de impérios e que "paz" e "Oriente Médio" são dois termos que nunca puderam estar na mesma frase.
http://ueba.net/hosted_pages/Abandonned-Park-20070102
Fotos que podem evocar sentimentos de natureza macabra ou melancólica, nunca indiferença. Mas pode acessar sem medo, é light, fotografias de qualidade.
www.dailyrotten.com/
As notícias mais bizarras, comprovando o clichê que a ficção, por mais que se tente, nunca será mais estranha que a realidade.
www.unknownnews.net/
Outro site informativo, só que sério, independente, provocativo; coisas que deveriam ter mais publicidade mas vão contra os interesses dos que detêm o poder.
www.transcendentalists.com/1emerson.html
Site sobre Ralph Waldo Emerson, um cara sobre quem deveríamos saber mais.
"Ser incompreendido é tão ruim assim? Pitágoras foi incompreendido, assim como Sócrates, Jesus, Lutero, Galileu, Copérnico, Newton e todo espírito puro e sábio que já existiu. Ser grandioso é ser incompreendido"
www.spress.de/author/burroughs/texts/talks/art.htm
Uma conversa entre o escritor beatnick William Burroughs e o escritor e pintor Bryon Gysin. Nunca tinha ouvido falar nesse último, na Wikipedia aprendi que foi ele quem compartilhou com Burroughs a técnica do Cut-Up, que consiste em pegar um artigo de jornal, por exemplo, dividi-lo em 4 partes e rearranjá-las improvisando um pouco para que façam sentido (ou não). Dadaísmo puro, é por isso que não entendi bulhufas do livro de Burroughs Almoço Nu. Dois caras que nunca tiveram medo de transgredir, e o faziam com brilhantismo.
www.deepleafproductions.com/utopialibrary/
Biblioteca online de textos utópicos: Francis Bacon, Noam Chomsky, Aldous Huxley, Thoreau, H.G. Wells, Robert Anton Wilson e mais uma porção de autores que não conheço perscutam a matéria do sonho. Conteúdo riquíssimo, caos e anarquia, "possibilidades e limites da evolução social".
www.tenant.net/Community/steal/steal.html
Não conhecia Abbie Hoffman até escrever o post sobre American Pie. A lenda diz que em Woodstock interrompeu a apresentação do The Who para protestar contra a prisão de um Pantera Negra e foi expulso do palco por Pete Townsend. Ativista hippie, tentou, sem sucesso, organizar os ideais de sua geração em um partido político, foi preso, passou anos foragido e ao longo das últimas décadas conseguiu angariar respeito nos círculos intelectuais por manter-se fiel à sua ideologia, fato raro entre seus companheiros: os hippies envelheceram e foram majoritariamente cooptados pelo sistema capitalista. Ainda vou falar mais dele, nesse link temos a obra Steal this Book, na íntegra, um guia sobre como viver de graça. Mais contracultural, impossível.
www.artcyclopedia.com/mostpopular.html
Os pintores mais famosos de todos os tempos e suas obras, ranqueados de acordo com a procura.
welcome.to/mytrailerparkpage
No meio desses sites sérios, uma página de extremo mau gosto, o álbum de fotos da família Monstro. Humor apelativo, diagramação lamentável, exemplo de mau uso da web. Por tudo isso é um dos meus favoritos.
Sites encontrados através do Stumble Upon:
www.stumbleupon.com/
Tenho mais de 600 sites armazenados e divididos por assunto, se tem algo de interessante nesse blog em parte é graças ao Stumble. Uma ferramenta genial, à prova de vírus, onde você tem sua própria página, além de subdivisões super detalhadas para que você só navegue em páginas indicadas por stumblers que compartilhem o mesmo interesse. Instale sem medo, vai criar uma barra de tarefas onde cada vez que clicar no ícone uma nova página entre os assuntos que selecionou vai aparecer. Se gostar do link, clique no thumb up (I like it!) e ele é armazenado.
E eles ainda acham que vivem em um país livre...
Nada como nos dedicarmos a um dos esportes mais populares do mundo: malhação de americano.
Algumas leis estaduais ou municipais mostram que o governo brasileiro tem um concorrente de peso no quesito humor involuntário. Mais que isso, como os "líderes do mundo livre" sentem falta de como as coisas eram na Idade Média, como são totalmente idiotas e como invejam secretamente os costumes machistas dos países islâmicos que bombardeiam.
- Em Maryland é proibido levar leões ao cinema.
- Em Ohio é ilegal uma mulher aparecer em público sem ter se depilado.
- Em Illinois uma lei obriga uma mulher que está saindo com um homem a chamá-lo de "Mestre".
- Em Carmel, New York, é ilegal um homem sair com jaqueta e calça que não combinem.
- Em Ottumwa, Iowa, é proibido um homem piscar para uma mulher que não conhece.
- Em Zion, Illinois, é proibido dar cigarros a animais domésticos.
Algumas leis de New York (o estado):
- Flertar em público pode te levar a pagar uma multa de US$25,00. A lei especifica que é proibido um homem olhar para uma mulher "daquele jeito".
- Uma licença deve ser obtida para pendurar roupas ao ar livre.
- Pular de um prédio é passível de pena de morte.
- É proibido andar com um sorvete de casquinha no bolso aos domingos.
- É proibido conversar no elevador e as mãos devem manter-se próximas do corpo.
- Mulheres podem fazer topless em público, desde que não seja para "fins comerciais".
- É proibido comer na rua e na praia só se pode beber água, e de uma garrafa limpa.
- Em Connecticut é proibido andar para trás depois do pôr de sol
Em Oklahoma é proibido...
- cachorros se reunirem em grupos superiores a 3 membros sem uma licença especial do prefeito.
- dar uma mordida no hamburger de outra pessoa.
- pessoas que fazem caretas para cães podem levar multa ou serem presas.
- sexo oral dá um ano de prisão e multa de US$2.500,00.
- um homem com mais de 18 anos fazer sexo com uma mulher abaixo dessa idade é considerado estupro se ela for virgem. Se não for, tudo bem...
- tatuagem.
- cuspir na calçada.
- usar botas na cama.
- fazer sexo antes do casamento (será que isso é verdade?)
No Alabama...
- você pode andar de carro na contra-mão, desde que tenha uma lanterna anexada ao veículo.
- é proibido um homem tentar seduzir uma mulher através de "truques artísticos, ameaça (...) ou promessa de casamento".
Na California é proibido...
- atirar em animais de dentro de um carro, a não ser que seja uma baleia.
- animais fazerem sexo próximos a escolas, bares ou igrejas.
- a luz do sol, contudo, é um direito do cidadão.
Na Florida é proibido uma mulher adormecer enquanto seca o cabelo. O dono do salão paga uma multa se cometer esse crime horrível.
- mulheres solteiras não podem pular de pára-quedas aos domingos.
Na Georgia é proibido...
- amarrar uma girafa em um poste.
- cuspir de um carro ou ônibus. De um caminhão pode.
Em Iowa se houver mais de 5 índios em sua propriedade você pode atirar neles.
Em Indiana é proibido...
- levar sua bebida do balcão para uma mesa; o garçom deve fazê-lo.
- um homem "ser excitado" em público.
- um bar que venda bebida alcoólica vender também refrigerante.
Em Louisianna é proibido...
- rituais que envolvam a ingestão de fezes ou urina.
- morder alguém com seus dentes é um "ataque simples"; se for uma dentadura é "ataque grave".
- roubar um banco e atirar no caixa com uma pistola de água.
- amarrar um jacaré a um hidrante.
Mais algumas proibições de lugares diferentes (se colocar todas vou encher umas 10 laudas):
- brigas entre gatos e cães
- se um casal for dormir em um hotel em um quarto com 2 camas deve haver uma distância mínima entre elas. Fazer sexo nesse espaço é proibido.
- quem perdeu alguém próximo não deve comer mais de 3 sanduíches no dia seguinte.
- vender menos que 24 patos antes de 1 de maio.
- roncar ao dormir, a não ser que a porta esteja trancada e todas as janelas fechadas.
- gorilas no banco de trás de carros.
- uma mulher cortar o cabelo sem permissão por escrito do marido.
- dormir de sapatos.
- pescar bêbado.
- mais que 5 mulheres viverem na mesma casa.
- ser preso aos domingos ou em 4 de julho.
- dormir dentro de uma geladeira. Forno, microondas ou máquina de lavar pode.
- cantar no chuveiro.
- atirar em um búfalo do quarto de um hotel. De residência particular pode.
- dirigir sem limpador de pára-brisa. Pode até não ter pára-brisa, mas tem que ter o limpador.
- apenas farmacêuticos registrados podem vender pílulas contraceptivas ou camisinhas.
- laçar peixes.
- dar mais de 3 goles seguidos na cerveja se estiver de pé.
- permanecer em um local onde moscas ou ratos podem se reproduzir.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
Grandes Enigmas da Humanidade - Parte 3 - Mitos do Nascimento do Universo
Nos últimos cem anos os cientistas têm se revelado as maiores vítimas de seu próprio ceticismo. Quanto mais pesquisam, mais estranha parece a realidade e assim, subvertendo crenças criadas por eles mesmos, acabam dando espaço para pesquisadores menos rigorosos, estudiosos da paranormalidade, Danikens da vida, os doidões de quem falei no último post. Ninguém mais discute que espaço e tempo são mesma coisa, que essa coisa pode ser dobrada, torcida, esburacada; que pode haver milhões de universos, aqui e agora, que teria sido melhor não ter olhado o átomo tão de perto, pois o que se vê simplesmente não pode ser explicado em palavras, não sem usar imagens que apenas transmitem uma pálida idéia do que de fato acontece. E olha que estamos falando apenas da física.
Na biologia, as descobertas têm sido não menos estarrecedoras. Animais (inclusive nós) se orientam pelo eixo magnético da Terra ou pela posição de astros no céu; boa parte dos seres vivos possui relógios biológicos que podem ser orientados pela luz, por mecanismos internos ainda desconhecidos ou por astros que nem os animais podem ver. Tudo levando a crer que, na verdade, espaço e tempo são criações humanas que foram dissociados para tentarmos submeter o ambiente a nós, o que equivaleria, em bom português, a tapar o sol com a peneira, além de ser uma grande tolice.
E essa história toda sempre acaba nas mesmas perguntas, tão velhas quanto nós. O espaço-tempo existiria sem a nossa percepção? Uma folha que cai de uma árvore sem que ninguém esteja observando realmente cai da árvore? O Universo teve um começo, agora estamos em algum lugar do meio e um dia terá um fim? O futuro já está decidido ou podemos interferir nele? Se há civilizações de outros planetas nos visitando, elas teriam essas respostas? E como elas chegaram tão longe sem se auto-aniquilarem durante seu desenvolvimento? São perguntas filosóficas, também científicas, mas no passado pertenciam ao campo da religião (exceto as duas últimas, que eu inventei).
É duro viver em uma realidade onde nada tem explicação. A fim de confortarem suas almas, todos os povos primitivos criaram sua própria cosmogonia, sua gênese. Porque algumas se assemelham tanto? "Antes que o céu e a terra tomassem forma, tudo era vago e amorfo", dizem os chineses. "No início Deus criou o céu e a terra. E a terra era disforme e vazia", segundo a Bíblia."Onde não havia nem céu nem terra, soou a primeira palavra de Deus", de acordo com os Maias.
Mas o bagulho fica louco mesmo quando constata-se que as mais modernas teorias acerca da ordem universal coincidem com mitos elaborados (?) por homens que presumivelmente tinham técnicas primitivas de agricultura e muitas vezes ainda moravam em cavernas. A idéia de que o Universo funciona de forma cíclica, contraindo e expandindo-se, teoria mais provável hoje em dia, já era defendida pelos hindus: para eles o Deus Shiva dança eternamente no ritmo das batidas de seu tambor, criando, destruindo e recriando o Universo. Alguns povos inventaram mitos da criação que se iniciavam com a quebra de um ovo... olha o Big Bang aí, mas os indianos parecem insuperáveis, tanto na riqueza de suas lendas como o quanto acertadas elas se mostraram. O Veda, conjunto de livros sagrados hindus escritos há cerca de 3500 anos, difere dos mitos ocidentais ao inverter a ordem das coisas: primeiro há o espaço, para só em seguida surgir o agente criador. Essa simples inversão diz muito sobre o hinduísmo: tudo que compõe o mundo, todas as coisas e seres, são manifestações de um único Deus. Eles não crêem na realidade na forma como a concebemos, para eles tudo é ilusório, inclusive o tempo. Um ano de um Deus corresponde a 360 anos humanos e 12 mil anos divinos equivalem a uma piscada de olho do Deus Vishnu; 1.000 piscadas de olho de Vishnu completam um ciclo de criação e destruição do mundo. Feitas as contas, chega-se à cifra de 4,3 bilhões de anos humanos. Se o fato de simples pastores conceberem um espaço de tempo de bilhões de anos em uma era tão remota é admirável, que dizer do detalhe que eles acertaram a idade aproximada do nosso planeta - cerca de 4 bilhões de anos? Coincidência?
Em um círculo de fogo, Shiva faz a dança do Universo nessa peça de bronze do Século X. O tambor em uma das mãos simboliza o som da criação, a outra detém a chama da destruição; a terceira assinala a libertação do medo, a quarta, apontando o pé erguido, simboliza o desprendimento. O pé direito pisoteia Asura, o Demônio da Ignorância.
Poderia encerrar aqui o post, mas como disse, o livro é realmente fabuloso, pulando dos hindus para outra crença indiana, o jainismo. Não por acaso, adotaram o símbolo que conhecemos como suástica nazista para representarem suas crenças, uma pena que o símbolo perdeu sua conotação original, que queria dar uma idéia de movimento em ciclos. Eles não têm um mito de criação, pois acham que o tempo é cíclico, sem começo nem fim; de fato o tempo é uma roda dividida em 12 raios, cada um representando uma era do mundo. No topo da roda temos uma era denominada Muito Bela, Muito Bela. Quando neguinho fala que nasceu na época errada, que queria ter vivido os dourados anos 50 ou os 30 ou alguma asneira parecida, é porque nunca ouviu falar dessa era concebida pelos jainistas. Só para começar, nela cada pessoa tinha cerca de 10 quilômetros de altura e 256 costelas. Isso mesmo. Ninguém passava dos 30 ou 35 anos sem encontrar sua alma gêmea: para facilitar o processo, as pessoas nasciam aos pares, sempre um homem e uma mulher, e seu irmão ou irmã calhava de ser sua cara metade, vocês se casavam, viviam milhares de anos, tinham filhos perfeitos apesar da consanguinidade e o melhor: sua sogra era sua mãe! O mundo era feito de açúcar, o vinho corria em rios e as árvores davam de frutas a pedras preciosas, passando por caviar iraniano e filmadoras japonesas. Fico imaginando um cara de 10.000 metros de altura sentado nas margens do Amazonas e enchendo a cara... na hora de levantar e ir pra casa é que devia ser complicado manter o equilíbrio de pileque e com essa altura toda. Com essas dimensões, as casas deviam ter o tamanho de países, meu quarto em Minas e a varanda de frente para a baía de Angra dos Reis. Será que não tinham problemas de densidade populacional, sem falar em diabetes e alcoolismo? Aparentemente, a palavra "problema" era desconhecida nessa era, que para arrematar durou no mínimo "400 trilhões de oceanos de anos". Desculpem as gracinhas, não pude evitar.
No entanto, rodas foram feitas para ter um comportamento dinâmico, isto é, rodar, e a era Muito Bela, Muito Bela demorou mas passou. Seguiu-se um período onde as pessoas tinham metade da altura e assim sucessivamente até chegarmos no canto inferior da roda, quando ninguém passava do meio metro de altura, tinha apenas 8 costelas e a expectativa de vida era de 20 anos. Felizmente essa era durou apenas alguns milhares de anos. Legal mesmo foi a forma encontrada pelos jainistas para representar sua estrutura temporal. O Universo é uma mulher gigantesca, a Terra na altura de sua cintura. Abaixo dela havia 7 níveis de inferno, acima, 14 níveis celestes. No meio de tudo isso flutuavam nossas almas, cada uma em determinado estágio de evolução e, assim como no hinduísmo, más ações nos puxavam para baixo e as boas empurravam para cima. Mas chega de jainismo, uma religião louca a ponto de seus adeptos se matarem de fome, tamanho o desdém que nutrem pela vida material. Aí também não, até onde sei essa é a única vida que possuo e não vou desperdiçá-la na expectativa de um pós-morte mais gratificante.
Em tempo: o livro de onde tirei isso tudo é da coleção "Mistérios do Desconhecido" da Time-Life e chama-se Tempo e Espaço.
quarta-feira, 3 de janeiro de 2007
Liberdade, versão ocidental Século XXI
A Generation Lost in Space
Mas fevereiro me fez arrepiar a cada jornal que entregava, eu não podia dar mais um passo à frente.
Não me lembro se chorei quando soube de sua viúva, mas algo me tocou profundamente no dia em que a música morreu.
Você escreveu o livro do amor, você tem fé no Deus lá de cima? Acredita no rock´n roll, que a música pode salvar sua alma e você pode me ensinar a dançar bem devagarinho?"
Até aí dá para traduzir a letra, mas se continuar fica meio ridículo ("era um adolescente sozinho, pele rosada, dirigindo uma saveirinho..." não dá). Além do mais ela é tão longa quanto indecifrável, é impressionante a quantidade de interpretações divergentes que você pode achar na rede. Acho que é uma das músicas mais bonitas já feitas, mas como é datada e manjada, muita gente deve discordar de mim.
Aparentemente ela conta a história do rock entre fevereiro de 1959 (quando Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper morreram em um acidente de avião; como os 3 eram estrelas do rock em ascensão a data ficou conhecida como "the day that music died") e 1971. American Pie foi eleita uma das 5 músicas mais representativas da cultura norte-americana no século XX. Me chamem de dinossauro, de saudosista, mas fico chateado quando vejo que pessoas mais novas que eu acharem que esse é o título de uma série de filmes patéticos para adolescentes. Isso porque acho que essa música é um pequeno baú do tesouro, repleto de jóias como:
When the jester sang for the king and queen,
In a coat he borrowed from james dean
And a voice that came from you and me
Quando o bobo cantou para o rei e a rainha
usando um casaco emprestado do James Dean
e uma voz que veio de mim e você
Separado assim do resto, o verso não parece ter nada de especial, mas acompanhado da melodia e da letra inteira, torna-se uma síntese sem par de uma geração que, mais que sonhar, ousou acordar e viver seus sonhos, todos magicamente na mesma sintonia. Algo difícil até mesmo de imaginar em nossos tempos pragmáticos, materialistas. Seguem as interpretações mais comuns, mas nada impede que você veja outras metáforas na letra. O autor, Don MacLean, sempre se recusou a revelar seu significado, deixando implícito que isso ficaria a cargo do ouvinte.
A long, long time ago...
I can still remember
How that music used to make me smile.
And I knew if I had my chance
That I could make those people dance
And, maybe, they’d be happy for a while.
But february made me shiver
With every paper I’d deliver.
Bad news on the doorstep;
I couldn’t take one more step.
I can’t remember if I cried
When I read about his widowed bride,
But something touched me deep inside
The day the music died.
So bye-bye, miss american pie.
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
And them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
Singin’, "this’ll be the day that I die.
"this’ll be the day that I die."
Did you write the book of love,
And do you have faith in God above,
If the Bible tells you so?
Do you believe in rock ’n roll,
Can music save your mortal soul,
And can you teach me how to dance real slow?
Well, I know that you’re in love with him
`cause I saw you dancin’ in the gym.
You both kicked off your shoes.
Man, I dig those rhythm and blues.
I was a lonely teenage broncin’ buck
With a pink carnation and a pickup truck,
But I knew I was out of luck
The day the music died.
Autobiográfica, a letra começa com lembranças da infância de MacLean, sua inocente interpretação da vida cultural americana na segunda metade dos anos 50, seus sonhos de se tornar músico, do choque que a morte de seus ídolos lhe causou, a primeira entre várias decepções e desilusões que causaram seu amadurecimento, como a morte de seu pai em 61, seu abandono da Universidade para tornar-se músico profissional e o assassinato de Kennedy em 63. O you in love with him do verso seria a paixão pelo rock que nascia na época. Miss American Pie era um estilo de vida que desaparecia então, onde a religiosidade ainda preponderava e uma inocente visão de mundo dava lugar a um enfoque mais amargo e melancólico.
I started singin’,
"bye-bye, miss american pie."
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, "this’ll be the day that I die.
"this’ll be the day that I die."
O refrão alude a um jingle popular dos anúncios da Chevrolet, além da óbvia metáfora de a vida ser uma estrada. Levee seria um córrego, um lugar aprazível, a água funcionando como uma entidade maternal, feminina, acolhedora. O fato de estar seco nos remete mais uma vez a uma grande desilusão. Os rapazes bebendo whisky e dizendo "é hoje que vou morrer" pode se referir ao estilo de vida inconsequente dos jovens, mas também a uma música de Buddy Holly.
Now for ten years we’ve been on our own
And moss grows fat on a rollin’ stone,
But that’s not how it used to be.
When the jester sang for the king and queen,
In a coat he borrowed from james dean
And a voice that came from you and me,
Referências à Bob Dylan como porta-voz da juventude, particularmente à sua canção Like a rollin´stone, o Rei e a Rainha podem ser o poder instituído, o establishment.
Oh, and while the king was looking down,
The jester stole his thorny crown.
The courtroom was adjourned;
No verdict was returned.
And while lennon read a book of marx,
The quartet practiced in the park,
And we sang dirges in the dark
The day the music died.
O king é Elvis Presley, sua carreira decaindo enquanto Bob Dylan, o jester (bobo da corte) ascendia, a coroa de espinhos significa o preço que a fama cobra; a influência dos Beatles e do ideário socialista na época.
We were singing,
"bye-bye, miss american pie."
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, "this’ll be the day that I die.
"this’ll be the day that I die."
Helter skelter in a summer swelter.
The birds flew off with a fallout shelter,
Eight miles high and falling fast.
It landed foul on the grass.
The players tried for a forward pass,
With the jester on the sidelines in a cast.
Começa falando provavelmente dos assassinatos de Sharon Tate e outros, em 69, cometidos pela "seita" do maluco Charles Manson, que achava que o Álbum Branco dos Beatles era uma mensagem cifrada que o instruía a liderar uma revolução onde brancos lutariam contra os negros. As oito milhas falam do grupo The Byrds, seu sucesso inicial e rápida decadência após denúncias de uso de drogas. A última linha fala de um acidente de motocicleta que Dylan sofreu na época.
Now the half-time air was sweet perfume
While the sergeants played a marching tune.
We all got up to dance,
Oh, but we never got the chance!
`cause the players tried to take the field;
The marching band refused to yield.
Do you recall what was revealed
The day the music died?
Uma referência ao avassalador sucesso dos Beatles nos EUA nos anos 60, que dificultou o êxito de bandas locais. Mas também pode ser uma alusão à Guerra do Vietnã, os jogadores tentando tomar o campo seriam os protestos contra a guerra, a marching band refused to yield a violenta retaliação da polícia, ou a recusa dos jovens a se alistarem. Ou ainda: o rock dos anos 60 era menos dançante que o dos anos 50, o romântico Maclean parecia se ressentir disso.
We started singing,
"bye-bye, miss american pie."
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, "this’ll be the day that I die.
"this’ll be the day that I die."
Oh, and there we were all in one place,
A generation lost in space
With no time left to start again.
So come on: jack be nimble, jack be quick!
Jack flash sat on a candlestick
Cause fire is the devil’s only friend.
Bela estrofe que fala de Woodstock, 69, onde 500.000 pessoas se reuniram e o abuso de drogas foi tamanho que sua geração constatou que não havia como começar de novo, que alguns efeitos eram indeléveis. Jack Flash é uma gíria inglesa para heroína, a mais perigosa das drogas, associando seu preparo, que envolvia a queima da substância, com o Diabo, o único amigo do fogo.
Oh, and as I watched him on the stage
My hands were clenched in fists of rage.
No angel born in hell
Could break that satan’s spell.
And as the flames climbed high into the night
To light the sacrificial rite,
I saw satan laughing with delight
The day the music died
Ele presenciou o trágico festival de Altamont em fins de 69, quando os Rolling Stones tiveram a estúpida idéia de contratar a gangue de motoqueiros Hell´s Angels como seguranças, o que resultou em espancamentos (os "anjos", bêbados e drogados, bateram até no vocalista do Jefferson Airplane) e quatro mortes: o fato de o show prosseguir mesmo depois de um homem ser brutalmente assassinado em frente às câmeras deu um ar de rito sacrificial ao evento, de celebração do demoníaco. Houve quem acusasse os Stones de terem procedido irresponsavelmente apenas para filmarem o rockmentário Gimme Shelter. Na verdade eles estavam tão confusos quanto qualquer outra pessoa presente e Altamont tornou-se a antítese do harmonioso Woodstock, seus desdobramentos catastróficos motivaram o fim dos megafestivais, o fim da crença ingênua que as coisas se acertam apenas com boas intenções e uma flor no cabelo.
He was singing,
"bye-bye, miss american pie."
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, "this’ll be the day that I die.
"this’ll be the day that I die."
I met a girl who sang the blues
And I asked her for some happy news,
But she just smiled and turned away.
I went down to the sacred store
Where I’d heard the music years before,
But the man there said the music wouldn’t play.
Provável alusão à morte de Janis Joplin, em 70. O fim do sonho da geração hippie.
And in the streets: the children screamed,
The lovers cried, and the poets dreamed.
But not a word was spoken;
The church bells all were broken.
And the three men I admire most:
The father, son, and the holy ghost,
They caught the last train for the coast
The day the music died.
Os efeitos devastadores da guerra, seja ela no Vietnã, ou mais provavelmente uma referência às bombas atômicas jogadas no Japão cujo desdobramento seria o Apocalipse: a Santíssima Trindade, decepcionada com a natureza auto-destrutiva do Homem, abandona sua criação pegando o último trem para o litoral.
They were singing,
"bye-bye, miss american pie."
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
Singin’, "this’ll be the day that I die."
Tentei contar a história através desses thumbnails, notem o Chevy negro no início, que evolui para um desenho bem anos 60 mas acaba totalmente detonado. Descobri uma página bem mais detalhada, possivelmente vou reescrever isso aqui.