terça-feira, 15 de setembro de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Quatro

10/6/09

Alvorada. "Acorda, patativa, e vem cantar". Ou dançar. Há pessoas que passam a vida inteira sem dançar, como ele. Ainda não está livre o suficiente para tanto. Um dia estará, ele sonha. Certamente nunca mais seria chamado de "patativa" depois que sua mulher se fora, muito menos daquele jeito cheio de alegria típico dela. E aquilo o fez chorar. Primeiro una fortiva lacrima, ainda às 4 e poucas. Depois nesse momento, às 5:37 a.m. Ela se fora como um anjo que abre mão de sua vida para salvar a de outro. Ele tem vontade de pedir perdão, "me perdoa,
sugar". Mas ela não está ali. A não ser que tenha virado uma canção, como na música do China. Assim ela não morreria nunca. Pensar aquilo lhe dá um certo conforto.
Como um combatente num filme velho de guerra com Frank Sinatra e Dean Martin ele ainda tem vontade de dizer a ela que vai honrar sua morte vivendo uma vida digna. Céus, hoje, sob a guarda de Jorge e a de Deus todo poderoso, o cara acordou sensível, sem saber se aquilo era uma benção ou maldição, provavelmente os dois. E resolve pensar na África, onde todos riem, cantam e dançam apesar da miséria. O programa de tv que assiste entrevista um sociólogo francês casado com uma africana. A pobreza não contamina suas almas. O cara quer escrever sobre pessoas. Como elas são. Porque Bogart disse em Casablanca que fulano de tal ser bêbado, ou estar sempre bêbado o fazia uma criatura do mundo? Não inglês, alemão, peruano ou mundano, mas do Mundo

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