domingo, 9 de agosto de 2009

Manuscrito encontrado sob um colchão de Hospital Psiquiátrico - Dois

(continuação; leia antes a parte Um)

Primeiro foi o cãozinho. Uma dessas raças fofinhas. Com certeza já estava doente, talvez fosse geneticamente defeituoso e o Josimar deixou com o homem porque não sabia o que fazer com o bicho. Afinal, Josimar sabia que ele e a mulher não permitiriam que atravessasse a cidade de moto na noite gelada com aquela criaturinha frágil. Caíram feito patos. O cachorrinho branco, batizado Pisquilo, morreu menos de um dia depois. O homem ainda gastou R$ 170,00 com veterinário, o que de nada adiantou. Viu o exato instante em que o sopro de vida saiu do bichinho e não voltou mais. Ficou chocado e deprimido. Prometeu a si mesmo nunca mais presenciar aquilo. O testemunho da visita do grandalhão de túnica negra, capuz e foice. The grim reaper. O Ceifeiro.

Pois poucas semanas depois o Ceifeiro voltaria a visitá-lo para roubar o fôlego de mais um vivente muito próximo dele: sua companheira, sua mulher.


9/6/09

E foi na reunião dos Narcóticos Anônimos, ali mesmo no hospital.

"Nunca mais vou te deixar pois agora sou uma canção". Música de China. Linda. É a Isabel. "Bebel, te amo muito, não importa onde você estiver. Hoje meus olhos ficaram marejados quando falei de ti pro psicólogo". "Você chorou na morte dela ou desde então?", pergunta o psicólogo. "Deixe-se acreditar, esse é o Reino da Alegria, não tema", diz o estranho clipe do Mombojó.

(continua)

Nenhum comentário: