domingo, 15 de agosto de 2010

Livrem-se dos livros

Nothing from nothing means nothing/ You gotta do something... etc. Musiquinha obscura dos anos 70, muito apropriada para descrever o nível de atividade do meu blog nos últimos meses. Ele agoniza, mas não estica as canelas. Não faço ideia do que provocou esse retorno, mas permaneço fiel à temática: impertinente e inútil.

Deu na folha de hoje: aqueles que trombeteavam que a "literatura" está morta há anos (Dan Brown e Paulo Coelho supostamente não se encaixam nessa definição) e que o livro, no formato que conhecemos, fatalmente seguiria o mesmo caminho, vão ter que engolir seus vaticínios. Como diria nosso garboso presidente, nunca antes na história do Brasil - ou do planeta - publicaram-se tantos títulos (um milhão por ano) e os best-sellers nunca venderam tanto. Agora, se as pessoas preferem ler Augusto Cury a Herman Melville são outros 500.000 exemplares.

Por outro lado, aquelas edições bacanas de capa dura imitando couro com que nossos avós adornavam suas vetustas bibliotecas, hoje são raridades. A popularização veio de mãos dadas com a banalização, compramos mais livros em supermercados e bancas do que em livrarias... isso me faz lembrar de uma crônica do Daniel Piza, se não me engano. Ele relata que teve o carro arrombado, levaram o sistema de som, alguns cds e na dúvida entre um pé de meia sujo e dois ou três livros, o(s) gatuno(s) preferiram levar apenas a peça de seu vestuário. Em suma: não vamos nos empolgar com as vendas recordes de obras de auto-ajuda, o brasileiro tem uma semi-alergia a livros e não vai se curar tão cedo. Só pra dar uma ideia do abismo que nos separa de uma Inglaterra, por exemplo: lá perderam-se 36.000 livros apenas no sistema de transportes londrino. Aqui, a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, uma das maiores do país, acabou de reabrir com 42.000 exemplares. Mas a gente ainda chega lá: no metrô de Sampa já largaram quase 3.000 objetos entre material escolar, de escritório e livros. E houve um crescimento de 80% entre 2005 e 2009.

Você deve estar se perguntando: então quanto mais livros forem perdidos, mais instruída estará a população? Ou seria exatamente o oposto, como na crônica do Daniel Piza? O especialista americano entrevistado na matéria do jornal acha a pergunta boa, mas não dá uma resposta exata. Em vez disso apresenta uma versão otimista e outra pessimista. Na primeira, que ele prefere por ser americano, é que o aumento das perdas simplesmente reflete o fato de mais pessoas estarem circulando com mais livros. Na outra, a explosão no número de títulos publicados estaria banalizando a relação entre o leitor e o livro, que está se tornando um objeto descartável. Se você chegou a ler até aqui, isso significa que tem algum nível de intimidade com a leitura. Então tenho uma pergunta: quantos livros comprou nos últimos doze meses? Eu não passei de cinco. Só pra instigar nosso complexo de vira-lata: na Inglaterra o consumo anual é de 18 exemplares por pessoa...

Um comentário:

r.A. disse...

Oi... Eu estava circulando em busca de poemas de Bukowski e encontrei um no seu blog. Aí pensei: Um cara que tem um poema do Bukowski no blog para boa coisa não serve (risos). Mas aí resolvi parar de pensar nisso,já que, um cara que procura poemas do Bukowski, bem, já sabemos... Comecei a ler o Blog e gostei dele. Vou continuar lendo. Agora sobre a questão que lançou, comprei uns 40 livros nos últios 12 meses e li, talvez o dobro. Meu salário não aumento e nem loiras peitudas sorriram para mim, no mais, tive o necessário para apreciar o seu blog!

:D
"Livros são como caco de vidro..."
_do velho safado acima citado.

Abraço e parabéns pelo trabalho.