quarta-feira, 30 de julho de 2008

Charles Wish


Já tinha muito tempo que eu eu não achava um artista plástico legal na web. Aí o stumble me vem com um mais ou menos no estilo dos caras que já publiquei, como o Yerka. Mas mais doido ainda. O cara mescla cultura pop, igreja, o american way of life e erotismo numa embalagem onírica, ou perturbardora, se preferir. Não vá julgando à primeira vista, a reação inicial remete a morbidez e perversidade, contudo, o tal Charles Wish é cuidadoso, detalhista. Tem coisas que se parecem com polaróides do inconsciente.


Vejo uma vontade de romper convenções: a garota de piercing chupa um picolé ligado por um fio ao carrinho do sorveteiro, que parece pertencer a um homem-elefante. Seria uma referência ao filme de David Lynch?


As imagens mereciam estar num tamanho maior. Repare no simbolismo da moldura da janela: um triângulo invertido, dentro de um quadrado, dentro de um octógono. No telhado, o boneco de um fauno(?).

Essa eu acho que o Jabor ia gostar. Bin Laden é Cristo, e parece estar prestes a ser esmagado por um trator; o ás de espadas na cruz, o verdadeiro Cristo dá a impressão de ser o condutor, segurando o rabo do diabo (???). O anjinho Tio Sam observa. E por aí vai. Estou achando esses comentários meus supérfluos e idiotas.

Dentre as que mostrei é a minha favorita. Não, não é por causada mulher pelada, várias outras que descartei também têm. O belo tom do céu com nuvens espiraladas. Um John Wayne comendo pipoca enquanto ouve conselhos de um anjo. O símbolo do feminino ao fundo.

Wish nasceu em 1971. Estudou religiões orientais, com ênfase em budismo tântrico, seitas indianas e filosofia hindu, chegando a morar num monastério. Simultaneamente, era fascinado com pintores regionalistas americanos, como Grant Wood - autor do célebre American Gothic:


Agora, a paródia, ou tributo, de Charles Wish:


Como diz a biografia dele, num mundo onde as barreiras culturais foram demolidas, Wish se utiliza de uma realidade onde cada cultura foi afetada e alterada por influências externas, e que para a Humanidade encontrar seu território em comum (com o outro e consigo mesmo) é necessário harmonizar essas múltiplas culturas para enfim criar sua própria individualidade a partir de um repositório infinito de possibilidades. Ficou confuso? No original está melhor.

A biografia vai mais além. As visões de Deusas Tântricas associadas a paisagens rurais, apesar de parecerem opostas, na ótica de Wish se complementam: os temas orientais trazem mistério e possibilidades infinitas, o provincianismo remete à preservação da cultura e tradições locais. O efeito, tanto no artista quanto no espectador resulta numa abordagem inclusiva, em busca da quintessência - esse termo não consta no original, mas achei que caía bem - das coisas até chegarmos aonde "resta apenas o divino".

Wish está vivo, casado, mora na Califórnia e aos poucos está ganhando notoriedade. Um crítico classificou seu estilo como "surregionalismo".

Alguém gostou? Achei que seria um prato cheio pra quem se liga nessas coisas de inconsciente, semiótica e mais uma porção de assuntos impertinentes. Dá até pra brincar de "ache a referência". Tem mais um monte em: http://www.charleswish.com/index.htm
Enjoy.

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