terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Irmãos Coen e coisas redondas e divertidas

Os irmãos Coen voltaram à moda com mais um filme rude, violento e esquisito. Onde os fracos não têm vez é forte candidato a um punhado de oscars, mas nem o fato de eu estar com o dvd pirata do filme foi motivo suficiente para eu me atrever a assisti-lo. Muita gente diz que não está nem aí pros oscars, e eu estaria mentindo se dissesse que sou uma delas. Então porque não vejo o maldito filme, já que adoro os caras, como se pode ver na lista ao lado? Resposta: pelo que ando ouvindo, parece ser "Coen demais", no mau sentido. Ou seja: peca pelo excesso de cenas chocantes, por aquele distanciamento que imprimem a suas obras mais "sérias", tornando-as pouco humanas e a identificação com qualquer personagem improvável. Como em Gosto de Sangue (Blood Simple) ou O Homem que não estava lá (The Man who wasn´t there). Por alguma razão, apesar de ter as mesmas características, não acho Fargo "Coen demais". Talvez por causa do Steve Buscemi ou pelo sotaque hilário dos personagens. Sei lá. O negócio é que se alguém fala mal desse filme sinto como um parente próximo foi insultado e dá vontade de voar no pescoço do cara. Mas não é disso que queria falar.
Entendem o que estou dizendo? Cena do filme mencinado acima

Sinto falta das boas comédias deles, como O Grande Lebowski e, sobretudo, Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy). Este último, não por acaso, deve ser o filme mais "humano" dos Coen, no sentido de ser o que mais se assemelha a coisas que gostamos de aninhar e proteger, como filhotes de gatos e cães. Pois trata-se de uma homenagem declarada aos filmes de Frank Capra, um sujeito que realmente acreditava que (quase) todo ser humano era essencialmente bom, justo e honesto e aquele que não fosse era regiamente repreendido até o fim do filme. Mas ainda não chegamos ao que quero abordar.

"Hoopla with the hula hoop"

Na Roda da Fortuna centra-se na epopéia de um ingênuo e bem-intencionado caipira (Tim Robbins) na cidade grande. Como parte de um complô imundo arquitetado pelo personagem de Paul Newman, ele é alçado ao posto de Presidente de uma poderosa corporação, justamente pelo fato de ser um "inocente útil", um cara cuja ingenuidade beira à burrice, e que desse modo, fatalmente levaria a corporação à bancarrota. Aí, com as ações a preço de banana, a companhia seria adquirida pelo maldoso Newman e Robbins sairia da jogada. Mas o que levou o lobo mau a escolher especificamente aquele cordeirinho? Numa sequência impagável, Robbins procura Newman para lhe falar de sua idéia revolucionária, e mostra a ele um papel com um círculo desenhado, e só. Aquilo era o rascunho de um bambolê, ou hula hoop em inglês. Enfim chegamos onde eu queria: bambolês e outras coisas redondas, simples, divertidas, "coquêluchicas", que fazem as crianças pular de excitação e os mais velhos suspirarem, nostálgicos.

Eu amo esse filme

Deu vontade de ver o filme? É, meu caro, não queria botar água na sua fervura, mas a não ser que dê a sorte de deparar-se com ele na tv paga, vais ficar na vontade, porque eu já o procurei e ele inexiste em dvd no Brasil, e as cópias em VHS são escassas. Que peninha. De qualquer modo, a película despertou minha curiosidade quanto às verdadeiras origens do bambolê. E, mais uma vez, a infalível revista Piauí, meu manancial de artigos tão bem redigidos quanto inusitados, me propiciou um post e respondeu a mais uma antiga indagação minha.

Parabéns pro bambolê. Nesse ano ele completa 50 anos. Em 1958, um tal Richard Knerr (pronuncia-se "nur") viu uns garotos australianos fazendo exercícios aeróbicos com aros de madeira. Um ótimo exercício, como reiterou um professor de Educação Física. Humildemente, passo a copiar a revista, eles contam a história melhor que eu:

Foi uma epifania. Knerr e seu sócio e amigo de infância Arthur Melin (a quem só falta uma consoante para ficar com nome de mago) levaram a idéia para os E.U.A., trocaram a madeira pelo plástico colorido, inventaram um nome prá lá de bom e começaram a demonstrar eles mesmos a novidade nos playgrounds da Califórnia. Criava-se ali a mãe de todas as manias. Antes do Cubo Mágico, do Pogobol, do Pacman e do Pokemon, o mundo rendeu-se aos pés - ou melhor, aos quadris - do Hula Hoop, aqui batizado de Bambolê.

E por aí vai. Em seguida somos informados que apenas dois anos depois o bambolê batia a casa dos 100 milhões de exemplares vendidos, a impensáveis US$1,98. O bambolê era uma piada do Juquinha no meio do chá de senhoras, uma bola de chiclete que estourava -ploc! - no jantar de gala. Quem sabe não foi uma das primeiras manifestações inconscientes do movimento hippie que estava por vir na década seguinte, assim como o Chuck Berry cantando Johnny B. Goode?

Mais um produto das Indústrias Wham-O

Knerr e Melin tinham uma empresa de fundo de garagem cujo nome derivava de seu primeiro produto: um estilingue, o zumbido do elástico esticando-se - whammmmmm - e o ruído do projétil acertando o alvo - o! - e estavam criadas as indústrias Wham-O. Cara, se eu fosse o Papa eu batalhava pra canonizar esses dois senhores. O mundo precisa, mais do que nunca, de gente como eles. Pois foram também eles os responsáveis pela popularização do frisbee, em 1955. Cinco anos depois um engenheiro químico levou a eles uma descoberta acidental, um plástico que não parava quieto. Criou-se então uma bolinha endiabrada, assassina serial de louças, taças de cristal, vidraças e o que mais viesse em sua trajetória. A revista não fala, mas creio que por aqui apelidamos a bolinha de "perereca".

Mas, como o Homem, esse animal tão estranho, sempre acaba com a brincadeira e a alegria inerente a ela, a Wham-O acabou vendida para a Mattel, dos bonecos Barbie e Ken, e pouco a pouco foi tragada e descaracterizada pela megacorporação fria e desumana.

Detalhe de uma das capas da Piauí; numa outra Che Guevara usa camiseta com estampa do Bart Simpson!

Quer saber mais? Compre a edição da revista de fevereiro. Ainda estou apreciando-a, bem devagarzinho, porque sei que um dia o Homem vai me privar da Piauí, e, embora isso possa soar ridículo, provavelmente nesse dia vou verter uma lágrima em honra a esse compêndio mensal da genialidade humana, que parece ter sido feita especialmente como uma encomenda para mim - ó, megalomania - , para que minha crença num mundo divertido, curioso, fascinante, plural, nunca pereça.

5 comentários:

Anônimo disse...

Impressionante como vc vai de cinema a bambolê. Tá tudo realmente interligado, das grandes coisas se chega às pequenas e vice-versa ainda com muito mais razão.

Que bom que voltou, continue. É um compromisso com os seus leitores e, acima de tudo, com vc mesmo.

Vitória Mendes disse...

Os seus textos são maravilhosos. Adoro o seu jeito dinâmico de transformar pensamentos em palavras.
Sou uma leitora assídua rs

beijão!

Anônimo disse...

De agora em diante,vc sabe q todo dia terá sempre alguém abrindo seu blog, como se fosse a parte de um lornal diario,procurando sua coluna favorita. Aproveite essa paixão e tente fazer dela um ritual diario.É assim que nos comprometemos sem nos oprimir.Pense em mim e em todas as pessoas q,ao procurar sua coluna predileta,se frustam ao vê-la vazia. Te admiro cada passo e vez mais. Sua MAIOR FÃ...BJS

Anônimo disse...

Cadê mais posts? We´re waiting for... kisses!

Anônimo disse...

Esse filme existe em dvd no brasil sim
pode procurar q tem locadoras q tem