sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

orodetolo


Às vezes leio a coluna de um cara que escreve para O Tempo, um jornal local bem chinfrim. Um dia desses ele fez uma paródia da famosa música do Raul Seixas... me faltam palavras para tanta...

Eu devia estar contente porque tenho um emprego, sou apenas um rapaz latino-americano, dito um cidadão desprezível e ganho R$ 379,90 por mês. Eu devia agradecer o Senhor por ter sucesso na vida, apesar de ter medo de avião e ter percebido que no fundo sou igual a meus pais. Eu devia estar feliz porque consegui comprar uma Kombi Miss Sunshine 73.

Eu devia estar grato ao Todo-Poderoso pelo trocador do ônibus ter troco pra cinco reáu e por ter sido reconhecido pelo garçon do self service na fila do banco. Eu devia estar rindo à toa porque só faltam 11 prestações, sem juros, no cartão da minha avó, da TV telefunken que comprei nas Casaa Bahia, onde você pode dvder o quanto quiser.

Eu devia estar sorrindo porque finalmente comprei uma dentadura.
Eu é que não me levanto da mesa de bar onde sentei sem ser convidado e filei o conhaque do velho, apesar dos protestos gerais. Porque foi tão fácil conseguir e agora eu intimo "e daí?" eu ainda tenho muita cara de pau, então peço um old eight na conta do outro e se alguém achar ruim pode cair pra dentro.

Eu é que não me sento pois prefiro ficar deitado vendo big brother enquanto minha mulher estranhamente demora 4 horas só pra levar uma xícara de açúcar pro vizinho lutador de jiu jitsu. Porque longe do Copacabana Palace e dos
Champs Elysées, mas na porta da minha casa se assenta a sombra sonora e malcheirosa de um cobrador.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Irmãos Coen e coisas redondas e divertidas

Os irmãos Coen voltaram à moda com mais um filme rude, violento e esquisito. Onde os fracos não têm vez é forte candidato a um punhado de oscars, mas nem o fato de eu estar com o dvd pirata do filme foi motivo suficiente para eu me atrever a assisti-lo. Muita gente diz que não está nem aí pros oscars, e eu estaria mentindo se dissesse que sou uma delas. Então porque não vejo o maldito filme, já que adoro os caras, como se pode ver na lista ao lado? Resposta: pelo que ando ouvindo, parece ser "Coen demais", no mau sentido. Ou seja: peca pelo excesso de cenas chocantes, por aquele distanciamento que imprimem a suas obras mais "sérias", tornando-as pouco humanas e a identificação com qualquer personagem improvável. Como em Gosto de Sangue (Blood Simple) ou O Homem que não estava lá (The Man who wasn´t there). Por alguma razão, apesar de ter as mesmas características, não acho Fargo "Coen demais". Talvez por causa do Steve Buscemi ou pelo sotaque hilário dos personagens. Sei lá. O negócio é que se alguém fala mal desse filme sinto como um parente próximo foi insultado e dá vontade de voar no pescoço do cara. Mas não é disso que queria falar.
Entendem o que estou dizendo? Cena do filme mencinado acima

Sinto falta das boas comédias deles, como O Grande Lebowski e, sobretudo, Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy). Este último, não por acaso, deve ser o filme mais "humano" dos Coen, no sentido de ser o que mais se assemelha a coisas que gostamos de aninhar e proteger, como filhotes de gatos e cães. Pois trata-se de uma homenagem declarada aos filmes de Frank Capra, um sujeito que realmente acreditava que (quase) todo ser humano era essencialmente bom, justo e honesto e aquele que não fosse era regiamente repreendido até o fim do filme. Mas ainda não chegamos ao que quero abordar.

"Hoopla with the hula hoop"

Na Roda da Fortuna centra-se na epopéia de um ingênuo e bem-intencionado caipira (Tim Robbins) na cidade grande. Como parte de um complô imundo arquitetado pelo personagem de Paul Newman, ele é alçado ao posto de Presidente de uma poderosa corporação, justamente pelo fato de ser um "inocente útil", um cara cuja ingenuidade beira à burrice, e que desse modo, fatalmente levaria a corporação à bancarrota. Aí, com as ações a preço de banana, a companhia seria adquirida pelo maldoso Newman e Robbins sairia da jogada. Mas o que levou o lobo mau a escolher especificamente aquele cordeirinho? Numa sequência impagável, Robbins procura Newman para lhe falar de sua idéia revolucionária, e mostra a ele um papel com um círculo desenhado, e só. Aquilo era o rascunho de um bambolê, ou hula hoop em inglês. Enfim chegamos onde eu queria: bambolês e outras coisas redondas, simples, divertidas, "coquêluchicas", que fazem as crianças pular de excitação e os mais velhos suspirarem, nostálgicos.

Eu amo esse filme

Deu vontade de ver o filme? É, meu caro, não queria botar água na sua fervura, mas a não ser que dê a sorte de deparar-se com ele na tv paga, vais ficar na vontade, porque eu já o procurei e ele inexiste em dvd no Brasil, e as cópias em VHS são escassas. Que peninha. De qualquer modo, a película despertou minha curiosidade quanto às verdadeiras origens do bambolê. E, mais uma vez, a infalível revista Piauí, meu manancial de artigos tão bem redigidos quanto inusitados, me propiciou um post e respondeu a mais uma antiga indagação minha.

Parabéns pro bambolê. Nesse ano ele completa 50 anos. Em 1958, um tal Richard Knerr (pronuncia-se "nur") viu uns garotos australianos fazendo exercícios aeróbicos com aros de madeira. Um ótimo exercício, como reiterou um professor de Educação Física. Humildemente, passo a copiar a revista, eles contam a história melhor que eu:

Foi uma epifania. Knerr e seu sócio e amigo de infância Arthur Melin (a quem só falta uma consoante para ficar com nome de mago) levaram a idéia para os E.U.A., trocaram a madeira pelo plástico colorido, inventaram um nome prá lá de bom e começaram a demonstrar eles mesmos a novidade nos playgrounds da Califórnia. Criava-se ali a mãe de todas as manias. Antes do Cubo Mágico, do Pogobol, do Pacman e do Pokemon, o mundo rendeu-se aos pés - ou melhor, aos quadris - do Hula Hoop, aqui batizado de Bambolê.

E por aí vai. Em seguida somos informados que apenas dois anos depois o bambolê batia a casa dos 100 milhões de exemplares vendidos, a impensáveis US$1,98. O bambolê era uma piada do Juquinha no meio do chá de senhoras, uma bola de chiclete que estourava -ploc! - no jantar de gala. Quem sabe não foi uma das primeiras manifestações inconscientes do movimento hippie que estava por vir na década seguinte, assim como o Chuck Berry cantando Johnny B. Goode?

Mais um produto das Indústrias Wham-O

Knerr e Melin tinham uma empresa de fundo de garagem cujo nome derivava de seu primeiro produto: um estilingue, o zumbido do elástico esticando-se - whammmmmm - e o ruído do projétil acertando o alvo - o! - e estavam criadas as indústrias Wham-O. Cara, se eu fosse o Papa eu batalhava pra canonizar esses dois senhores. O mundo precisa, mais do que nunca, de gente como eles. Pois foram também eles os responsáveis pela popularização do frisbee, em 1955. Cinco anos depois um engenheiro químico levou a eles uma descoberta acidental, um plástico que não parava quieto. Criou-se então uma bolinha endiabrada, assassina serial de louças, taças de cristal, vidraças e o que mais viesse em sua trajetória. A revista não fala, mas creio que por aqui apelidamos a bolinha de "perereca".

Mas, como o Homem, esse animal tão estranho, sempre acaba com a brincadeira e a alegria inerente a ela, a Wham-O acabou vendida para a Mattel, dos bonecos Barbie e Ken, e pouco a pouco foi tragada e descaracterizada pela megacorporação fria e desumana.

Detalhe de uma das capas da Piauí; numa outra Che Guevara usa camiseta com estampa do Bart Simpson!

Quer saber mais? Compre a edição da revista de fevereiro. Ainda estou apreciando-a, bem devagarzinho, porque sei que um dia o Homem vai me privar da Piauí, e, embora isso possa soar ridículo, provavelmente nesse dia vou verter uma lágrima em honra a esse compêndio mensal da genialidade humana, que parece ter sido feita especialmente como uma encomenda para mim - ó, megalomania - , para que minha crença num mundo divertido, curioso, fascinante, plural, nunca pereça.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

I´m not dead

É com um misto de alegria e apreensão que venho informar meus leitores que não abandonei este blog e vou dar prosseguimento à história. Alegria porque abandoná-lo seria como me aproximar das trevas da ignorância e alienação. Por outro lado, estou apreensivo porque a história foi concebida e desenvolvida num determinado contexto que se diluiu numa inundação de eventos insólitos. Mas não largo o osso: desistir da história também seria uma demonstração de fracasso and I ain´t no loser.