Acredite naqueles que buscam a verdade. Duvide dos que já a encontraram. André Gide
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
O Homem que foi viver com os ursos
Timothy Treadwell (1957-2003) tinha tudo para se encaixar no "American way of life", seguir uma carreira bem sucedida, casar-se, ter filhos lourinhos de olhos azuis e promover churrascos de hamburger nos finais de semana para seus prósperos vizinhos. Contudo, em vez de trilhar de seguir a manada ele resolveu se arriscar e levou uma vida, no mínimo, peculiar. Na juventude seus interesses voltaram-se para a preservação do meio ambiente, mas seu sonho era tornar-se ator. Infelizmente, ele perdeu um papel em uma sitcom para Woody Harrelson e desistiu de sua carreira dramática, um baque que o levou às drogas e álcool.
É esta pergunta que Werner Herzog tenta responder no documentário "The Grizzly Man". Tim tornou-se uma celebridade, foi no David Letterman, virou capa de revista, mas obviamente não queria fama e fortuna, pelo contrário, evitava tudo que era "humano". Sabe-se que longos períodos de reclusão em locais ermos propiciam jornadas de auto-conhecimento, nem sempre as descobertas são agradáveis. Em um de seus monólogos, Tim expressa seu desejo de tornar-se um urso, como se eles vivessem num mundo de conto de fadas, cheio de amor, ternura e pureza. Aparentemente ele estava se demenciando, ursos não são criaturas perfeitas, é comum os machos comerem os próprios filhos, por exemplo. Como era de se esperar,Tim morreu junto com a namorada ao serem atacados por um urso. Um detalhe macabro: no momento do assassinato, a câmera estava ligada, e embora com a lente coberta, pode-se ouvir claramente os gritos agonizantes do casal.
O fascínio de Herzog pelo protagonista é evidente. Na verdade, alguns especialistas apontaram que sua presença no santuário não só era dispensável, pois não corriam risco de extinção, mas era prejudicial, pois ele estava habituando os ursos à presença humana. Portanto, Tim pouco tinha de ambientalista, na verdade ele procurava seu lugar no mundo. Rotulá-lo como louco é uma saída demasiadamente superficial. Ele enxergava os elos que ligam todas as criaturas vivas, o fato de que somos parte de algo muito maior e insistia na necessidade de respeitar a natureza. Pensando bem, Tim era mais lúcido que a maioria de nós. Ele fez sua parte, embora de modo pouco científico e muito tresloucado. Mas o que importa é a mensagem que deixou.
Era sobre isso que divagava quando saí do cinema. Até onde vamos para nos encontrarmos, como a natureza humana é complexa e peculiar. Entrei no carro, o tráfego congestionado exasperava as pessoas, motoristas se recusando a dar passagem a outros numa verdadeira disputa territorial. Fui para um bar com uma amiga um desses bares meio caros, pretensiosos. Na mesa ao lado homens de terno concordavam que a solução era matar os criminosos para que trabalhadores como eles pudessem ostentar seus Jaguars sem medo. Mais tarde dois bêbados começam a discutir por que supostamente um cantou a mulher do outro, e se atracam numa briga. Ninguém intervém, até que um bate na cabeça do outro com uma garrafa de Skol e este desmaia. A mulher passa a chorar com estridência, o outro cara foge correndo. Chega a ambulância. Não garantem que ele seja atendido porque não tem plano de saúde.
No início dos anos 90 ele visitou o Alaska várias vezes e ficou extremamente interessado por ursos. Apesar do acesso a eles ser proibido, Tim mudou-se para o santuário dos ursos, onde viveu por 13 anos numa barraca (!). Livrou-se dos vícios graças a seus amigos peludos, segundo ele. Desobedecendo os conselhos dos índios locais de respeitar o espaço dos ursos ele se estabeleceu bem no meio deles. As mais de 100 horas de vídeo que gravou mostram o quanto era corajoso (ou estúpido), pois chegava a tocar aqueles animais enormes de 500 kilos. Dizendo-se defensor deles, ele espantava visitantes humanos agindo como um urso agressivo. Paradoxalmente, ele humanizava os animais dando-lhes nomes e conversando com eles. Qual o verdadeiro motivo de Tim tomar uma decisão tão radical? Seria puro amor à natureza ou ele estaria fugindo de si mesmo?Tim e sua raposa de estimação
É esta pergunta que Werner Herzog tenta responder no documentário "The Grizzly Man". Tim tornou-se uma celebridade, foi no David Letterman, virou capa de revista, mas obviamente não queria fama e fortuna, pelo contrário, evitava tudo que era "humano". Sabe-se que longos períodos de reclusão em locais ermos propiciam jornadas de auto-conhecimento, nem sempre as descobertas são agradáveis. Em um de seus monólogos, Tim expressa seu desejo de tornar-se um urso, como se eles vivessem num mundo de conto de fadas, cheio de amor, ternura e pureza. Aparentemente ele estava se demenciando, ursos não são criaturas perfeitas, é comum os machos comerem os próprios filhos, por exemplo. Como era de se esperar,Tim morreu junto com a namorada ao serem atacados por um urso. Um detalhe macabro: no momento do assassinato, a câmera estava ligada, e embora com a lente coberta, pode-se ouvir claramente os gritos agonizantes do casal.
O fascínio de Herzog pelo protagonista é evidente. Na verdade, alguns especialistas apontaram que sua presença no santuário não só era dispensável, pois não corriam risco de extinção, mas era prejudicial, pois ele estava habituando os ursos à presença humana. Portanto, Tim pouco tinha de ambientalista, na verdade ele procurava seu lugar no mundo. Rotulá-lo como louco é uma saída demasiadamente superficial. Ele enxergava os elos que ligam todas as criaturas vivas, o fato de que somos parte de algo muito maior e insistia na necessidade de respeitar a natureza. Pensando bem, Tim era mais lúcido que a maioria de nós. Ele fez sua parte, embora de modo pouco científico e muito tresloucado. Mas o que importa é a mensagem que deixou.
Era sobre isso que divagava quando saí do cinema. Até onde vamos para nos encontrarmos, como a natureza humana é complexa e peculiar. Entrei no carro, o tráfego congestionado exasperava as pessoas, motoristas se recusando a dar passagem a outros numa verdadeira disputa territorial. Fui para um bar com uma amiga um desses bares meio caros, pretensiosos. Na mesa ao lado homens de terno concordavam que a solução era matar os criminosos para que trabalhadores como eles pudessem ostentar seus Jaguars sem medo. Mais tarde dois bêbados começam a discutir por que supostamente um cantou a mulher do outro, e se atracam numa briga. Ninguém intervém, até que um bate na cabeça do outro com uma garrafa de Skol e este desmaia. A mulher passa a chorar com estridência, o outro cara foge correndo. Chega a ambulância. Não garantem que ele seja atendido porque não tem plano de saúde.
Assinar:
Postagens (Atom)