sábado, 26 de abril de 2008

O Caminho do Guerreiro Pacífico - Atualizado

Esta história não é de minha autoria. Vem de um filme, adaptação do livro que intitula este post.


Capítulo I


Ok, você é jovem, bonito, exímio na ginástica olímpica, popular, família rica, aluno exemplar. Sente que o mundo inteiro cabe em suas mãos. Então porque não dorme à noite? Vai saber... Fica perambulando pela madrugada, passa numa loja de conveniência e compra um gatorade - você também não tem vícios. O frentista, um velho barbudo, usando um sapato de cada cor, do nada faz algo fora do comum que chama sua atenção, mais que isso, te instiga, como se você tivesse que provar alguma coisa a ele. Muito estranho, se compararmos suas posições na pirâmide social, ou mais exatamente, na cadeia alimentar. Você é um grande felino, ele, no máximo um roedor. Os atletas mais completos são os ginastas. Ele te fala dos guerreiros espartanos de elite, cujo treinamento envolvia saltar sobre touros, sabia disso?
"Sei mais do que você imagina", é sua resposta.
Com ares de filósofo, ele retruca:
"Imagina mais do que sabe. Conhecimento não é o mesmo que sabedoria".
Que velho atrevido, que chavão mais surrado!
"É mesmo? Qual a diferença?" Sua voz não esconde a irritação.
"Sabe limpar um pára-brisa?" E ele atira uma bucha pra você. Ele está abastecendo um carro e você esfrega a bucha no vidro, sem pensar naquilo. "Sabedoria é agir."

"Sabedoria é agir"... ele deve ter visto isso naquele filme caça-níquel O Segredo. Mas você volta pra casa pensando naquilo.



Capítulo II


Ao dormir na noite seguinte com uma modelo aspirante a atriz ruiva e siliconada, sonha que está praticando nas argolas quando cai e sua perna se esfacela em pedaços. Um servente varre os caquinhos. Ele usa os mesmos sapatos do frentista.

Deixa a ruiva sem entender nada. Aquilo te impele para o posto:
"Porque usa um sapato diferente do outro? É uma moda nova entre os proletas?"
Ele não se abate com o comentário preconceituoso:
"Acidentei-me quando praticava."
Você o estuda. Parece emanar uma confiança inquebrantável, uma serenidade à toda prova. Quer diminuí-lo:
"Sabe que um dia você pode sair no Fantástico? 'O frentista que virou guru de auto-ajuda'. Já estou até imaginando o Cid Moreira narrando."
Ele te lança um olhar com tamanha piedade que você continua:
"Treino 7 dias por semana. 50 semanas por ano!"
"Pra quê?"
"Cê tá brincando, né? Estou prestes a conseguir a classificação." Você reforça a última palavra, pra calar a boca dele de vez. Mas isso é impossível:
"Classificação pra quê?"
"Acompanha as Olimpíadas?"
"Não."
Que lunático... ainda assim como ele coseguiu fazer aquilo que te impressionou tanto?
"Olha, mesmo sendo bom, tenho que dar o melhor de mim pra conseguir minha classificação para os Jogos Olímpicos."
"Você ainda precisa aprender muita coisa pra entender o que acabou de ver."

É verdade. Mas é claro que você não dá o braço a torcer:
"Então me teste. Faça uma pergunta. Qualquer uma. Manda ver, sem dó".

Pausa. Ele está debruçado sobre o motor de um Chevette que já devia estar no ferro-velho há anos. Ergue a cabeça e te encara:
"Você é feliz?"

Putaquepariu. Mais uma vez ele te desconcerta. Você é inundado por duas sensações quase conflituosas. O fascínio da criança ao ver o mágico tirando o coelho da cartola, e a vergonha raivosa que te apossou quando foi flagrado pela professora com uma revista pornô em frente de toda a classe. Sem se dar conta, você fica olhando pra ele de boca aberta, tirando e botando a mão no bolso. Não tem resposta para aquilo. Com o silêncio, ele volta a te olhar:
"Disse que eu podia perguntar qualquer coisa."
"O que felicidade tem a ver com isso?"
"Tudo."
E você passa a desfiar o rosário de maravilhas que é sua vida. Grana, notas altas, popularidade, garotas, sua moto Triumph de 800 cc, sua quase certeza de participar das Olimpíadas etc.
"Então porque não dorme à noite? Que está fazendo aqui mais uma vez se exasperando com um frentista às 3 da manhã?"

E mais uma vez ele está certo:
"Quem é você, o filósofo do posto Shell?"
"Precisa de filosofia?"
"Não, valeu, Platão, já tenho o suficiente na faculdade." Você diz isso já de saída, dando um esbarrão proposital nele. Babaca.

"Última pergunta, ginasta olímpico. Suponhamos que não seja classificado. O que você faria?"
(continua)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ateu Attacks!

Brasileiro adora igreja. Enquanto ouvia agora há pouco um homem histérico berrando e cantando músicas medonhas num templo crente pensei numa coisa. Se um ET desembarcasse na Terra afim de pesquisar objetos de nossa devoção, sua descrição do Cristianismo seria mais ou menos assim:

Crença em um zumbi judeu cósmico que é o pai de si mesmo e te dará vida eterna se você comer sua "carne" e telepaticamente contar a ele que você o aceita como seu mestre; para que então ele possa remover de sua alma uma força maléfica que está presente na Humanidade porque uma mulher feita de uma costela foi convencida por uma cobra falante a morder um fruto de uma árvore mágica.

Faz sentido!

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Caminho do Guerreiro Pacífico

Esta história não é de minha autoria. Vem de um filme, adaptação do livro que intitula este post.

Ok, você é jovem, bonito, atlético, popular, família rica, aluno exemplar. Sente que o mundo inteiro cabe em suas mãos. Então porque não dorme à noite? Vai saber... Fica perambulando pela madrugada, passa numa loja de conveniência e compra um gatorade - você também não tem vícios. O frentista, um velho barbudo, do nada faz algo fora do comum que chama sua atenção, mais que isso, te instiga, como se você tivesse que provar alguma coisa a ele. Muito estranho, se compararmos suas posições na pirâmide social, ou mais exatamente, na cadeia alimentar. Você é um grande felino, ele, no máximo um roedor. Ele te fala dos guerreiros espartanos de elite, cujo treinamento envolvia saltar sobre touros, sabia disso? "Sei mais do que você imagina", é sua resposta. Com ares de filósofo, ele retruca: "Imagina mais do que sabe. Conhecimento não é o mesmo que sabedoria". Que velho atrevido, que chavão mais surrado! "É mesmo? Qual a diferença?" Sua voz não esconde a irritação. "Sabe limpar um pára-brisa?" e ele atira uma bucha pra você. Ele está abastecendo um carro e você esfrega a bucha no vidro, sem pensar naquilo. "Sabedoria é agir."
(continua)


Continua nada. A partir daí o filme descamba para a americanofilia - nem sei se a palavra existe -
resvalando nos clichês de superação pessoal inverossímil, o mestre que acaba aprendendo com o discípulo, essas baboseiras de sempre. Nick Nolte está desperdiçado como o Yoda da Texaco. Mas os extras informam que é baseado em uma história real, um paraplégico que... ah, nem vale a pena contar.

Do the Evolution

Houve uma época, há muito menos tempo que parece, que o videoclipe era o supra-sumo da modernidade. Ir na casa de um amigo e ficar vendo aqueles filminhos toscos e cafonas dos anos 80 era super "in", como se falava, ou em português atualizado, o hype. Céus, estou falando como minha avó! "No meu tempo"..., "a gíria da época", "não se usava fazer isso"... São expressões típicas de quem julga pertencer a outro tempo, nostálgico. Pois é. No meu tempo o Michael Jackson ainda era um ser humano e amarrava-se cachorro com linguiça. Ha ha ha...

Michael does the evolution

Foi esse cara, hoje tido como aberração da natureza, que revolucionou não só a dança, mas toda a indústria da música. Antes do MJ havia o pop e o rock. Esses gêneros não se misturavam, da mesma forma que nos EUA havia as rádios de brancos e as rádios de negros. Depois que Jacko fez seu passo de dança moonwalk num show em maio de 83 o mundo nunca mais foi o mesmo. A partir daí ele foi rompendo um tabu após o outro (pena que alguns tabus não são exatamente motivo de orgulho), recorde sobre recorde. Em dezembro do mesmo ano ele se juntou ao diretor John Landis para mais uma revolução, desta vez com um clipe, Thriller. E os clipes ganharam um status que não tinham até então.

Se não fosse MJ, nunca teríamos obras espetaculares como Do the Evolution, uma animação soberba em cima de uma canção do Pearl Jam. Você já deve ter visto, está em toda seleção de "melhores clipes". Mas vale o registro. Além do mais, acho que me saio melhor quando não escrevo besteira. O desenho é tipo uma versão enxuta de The Wall, atualizada pros anos 90. O traço do Todd McFarlane (das HQs Spawn) se adequa perfeitamente ao tom contestador, pessimista, incisivo, da letra, um resumo da história de nosso planeta, mais que isso, um mea culpa da raça humana, chegando a ser quase profético, visto que data de mais de 10 anos atrás. Influenciou muita coisa que veio depois, como Matrix. A manipulação das massas através da religião, a banalização da violência, o endeusamento da brutalidade e da alienação, os saltos tecnológicos que paradoxalmente nos desumanizaram ainda mais, gradualmente privando a singularidade de cada um. Máquinas cada vez mais parecidas com pessoas e vice-versa. O demônio personificado por uma gatinha irresistível. Um bebê brincando com um 38 carregado, acho que essa seria a síntese. E a música é rock´n roll da melhor estirpe, espécime cada vez mais raro. Confira aqui. Tentei copiar e colar a letra de vários sites, mas sempre vinha desconfigurado. Mas você pode ver aqui. Depois traduzo.

domingo, 13 de abril de 2008

China: Terra de Contrastes

As Olimpíadas de Pequim, somadas ao boom econômico, fizeram o mundo voltar sua atenção para a China. O fato de se situar do outro lado do globo, tratando-se de uma cultura tão antiga quanto peculiar, e somado a um regime político que tenta isolar seu povo o máximo possível do resto do planeta, nos leva a cultivarmos estereótipos muitas vezes equivocados. Talvez os chineses não sejam tão diferentes de nós quanto pensamos. Talvez sejam mais.

Munido desse espírito desmistificador, e com o apoio imprescindível da Superinteressante desse mês, pincei alguns fatos que podem lançar uma luz nesse mistério chamado China. Vou além dos filés de cachorro, pastelarias, tinturarias, Bruce Lee, bens de consumo baratos e ordinários e daquele chapéu engraçado dos plantadores de arroz. Mas não vá esperando um tratado acadêmico: vou falar de cultura, mas daquela que não tem serventia alguma.

- O Governo Chinês, uma das ditaduras mais duras de nossos tempos, merece letras maiúsculas, afinal, ele controla tudo, estando inclusive acima de Deus. Aliás, que Deus? O camarada Mao? Os lamas tibetanos, por exemplo, estão proibidos de ressuscitar sem a autorização do Estado. Os tentáculos do Partido Comunista, que é a mesma coisa que o Governo, controlam ainda a internet - são 30.000 censores só pra web - a religião - há católicos, mas eles não podem reconhecer o Papa como seu líder e padres e bispos precisam passar pelo crivo do PC antes de serem ordenados; a tv, é claro, e até mesmo os relógios. Devia haver 4 fusos horários na China, mas o Governo falou que a hora que vale é a de Pequim e não se discute.

- Mas não se discute mesmo: o Congresso se reúne apenas uma vez por ano. Toda forma de oposição ao PC é tratada como "ameaça ao regime", passível, no mínimo, de prisão. Aliás, há cerca de 100 jornalistas e blogueiros presos atualmente.

- Contudo, o tal mito de que nas execuções a família do morto paga pela bala é impreciso: ela também tem que arcar com o funeral, mas as flores são cortesia do PC.

- O chinês e o sexo: filme pornô é proibido. Um casal que via um vídeo erótico foi denunciado pelo vizinho. A polícia veio, encarcerou-os, confiscou o vídeo e a fita. Mas mesmo lá os ventos liberais já sopram: uma campanha (anônima, é claro) pela internet pedindo sua libertação resultou em sua soltura. O fanatismo da censura gera anomalias como uma estatística que diz que 77% dos chineses não sabem que a AIDS pode ser evitada com o uso da camisinha. E a maioria dos homens só perde a virgindade aos 23 anos. O aborto é permitido, por isso só 2% das chinesas casadas tomam pílulas anticoncepcionais. Homossexualismo é caso de polícia. Paradoxalmente, agências de escort girls são permitidas. No entanto, as garotas não fazem sexo, apenas conversam com clientes pouco afeitos a colóquios com o sexo oposto.

- Um grande evento esportivo são as Olimpíadas Suínas. As provas incluem corrida, natação, velocidade ao comer, simpatia e conhecimentos gerais. No ano passado o vencedor foi um atleta de 1040 quilos extremamente cortês e afável, por sinal.

- A cada feriado do Ano-Novo, mais de 300 milhões de chineses viajam pelo país para se juntarem a suas famílias. Com trens superlotados e sem banheiros, muitos se previnem usando fraldas geriátricas.

- Ah, sim, não podia esquecer da dieta do chinês. Basicamente, eles comem tudo que se move. Qualquer bicho que você pensar. Mesmo. Se for a Pequim, não deixe de visitar o restaurante Guolizhuang, especializado numa certa parte da anatomia de animais como touro, jumento, cão, carneiro, cobra e foca. Apenas os machos, é óbvio.

- Um pequeno conto macabro. Diz uma lenda que se um homem morrer sem se casar, sua linhagem estará comprometida em sua próxima encarnação. Caso esse infortúnio aconteça, sua família trata de matar ou mandar matar uma jovem para ser enterrada com ele e assim casarem-se no pós-morte, livrando-se da maldição. No ano passado, uma quadrilha especializada em conseguir "noivas cadáveres" foi presa.

- Para não me acusarem de implicância: o próprio Governo instituiu o Comitê de Orientação Espiritual Civilizadora. Os chineses são orientados a não escarrarem em público, não jogarem lixo na rua, respeitarem áreas de não-fumantes, falarem mais baixo em público (eles gostam de conversar aos berros), não agacharem na rua (?) e lavarem as mãos de vez em quando.

Pensando bem, o Lula devia implantar esse comitê aqui.